
Hamor, o pai de Siquém, dirige-se a Jacó e seus filhos após este ter ofendido Diná: Mas Hamor lhes disse: "A alma de meu filho Siquém anseia por vossa filha; por favor, dai-lha em casamento" (v. 8). Ele se aproxima deles com o desejo de resolver a questão por meio de casamentos mistos, em vez de conflito aberto. O anseio de Siquém por Diná é expresso como um profundo anseio pessoal, que Hamor espera que motive a família de Jacó a aceitar um acordo pacífico.
Nas normas culturais daquela época, era comum que as famílias negociassem casamentos como forma de forjar alianças ou reparar relacionamentos tensos. Esta região, conhecida como Siquém, localizava-se na terra de Canaã, situada no planalto central que um dia se tornaria parte de Israel. Historicamente, Siquém era uma cidade influente situada entre o Monte Gerizim e o Monte Ebal, cerca de 64 quilômetros ao norte de Jerusalém, em termos modernos.
De uma perspectiva espiritual, a proposta de Hamor é uma tentativa de unificar duas famílias que servem a deuses diferentes e têm costumes diferentes. O convite levanta questões sobre pureza, relacionamentos de aliança e o que significa ser separado. Eventos posteriores na história bíblica enfatizarão a importância de reconhecer a santidade de Deus (Levítico 11:44) e como o casamento misto pode levar a um comprometimento moral (Juízes 3:5-6), uma tensão que começa aqui. Hamor leva sua proposta ainda mais longe: Casai-vos conosco; dai-nos as vossas filhas e tomai as nossas para vós. (v. 9) Ele essencialmente solicita que cada grupo troque filhas, criando um vínculo muito mais próximo. Durante esse período, os acordos de casamento não eram apenas sobre dois indivíduos, mas também sobre forjar alianças sociais e tribais.
A sugestão de Hamor revela a prática costumeira na região, onde o casamento poderia servir como uma ponte para unir diferentes tribos ou povos. Isso era especialmente significativo para estrangeiros como a família de Jacó, que viajava pela terra de Canaã. Unir-se por meio dessas uniões teria oferecido proteção mútua e benefícios comerciais.
No entanto, na narrativa bíblica, a promessa de Deus a Abraão envolvia a permanência de um povo distinto (Gênesis 17:1-8). Embora as interações com nações vizinhas fossem permitidas, há uma preocupação persistente de que o casamento com povos que adoravam outros deuses pudesse levar Israel ao erro. A oferta de Hamor, portanto, está repleta de perigos ocultos para a casa de Jacó. Ele continua: Assim, vocês viverão conosco, e a terra estará aberta diante de vocês; habitem, negociem e tomem posse dela (v. 10). Hamor tenta adoçar a oferta destacando as vantagens práticas dessa parceria. Ele lhes apresenta a liberdade de morar, conduzir negócios e possuir terras em Siquém, sugerindo um futuro próspero para a família de Jacó, caso optem por se integrar.
A terra de Canaã era particularmente desejável por suas rotas comerciais e terras aráveis. Estando no cruzamento das principais rotas comerciais do antigo Oriente Próximo, Siquém oferecia oportunidades lucrativas para o comércio. Para uma família migrante como a de Jacó, ter território seguro e a chance de acumular riqueza era uma proposta tentadora. Apesar desses benefícios, a promessa da aliança de Deus era dar aos descendentes de Abraão sua própria terra, não fundi-los indistintamente com outros povos (Gênesis 12:7). Surge a pergunta: os filhos de Jacó confiarão no tempo e nos caminhos do SENHOR, ou aceitarão precipitadamente a condição de Hamor para assimilação e correrão o risco de perder a identidade distinta que Deus estabeleceu para eles?
Agora, o próprio Siquém fala, buscando apaziguar a situação: Siquém também disse a seu pai e a seus irmãos: "Se eu encontrar graça aos vossos olhos, então darei tudo o que me disserem" (v. 11). Ciente do mal que fizera a Diná, ele faz um apelo direto, mencionando sua disposição de atender a qualquer demanda que eles apresentassem. Nesse ato, ele expressa contrição e a determinação de reparar os danos causados por seu ato impulsivo. Siquém, como figura-chave, provavelmente recebeu o nome da cidade. Tradicionalmente datado para o início do segundo milênio a.C., a cronologia histórica coloca-o e Hamor como governantes heveus locais ou cidadãos importantes em Siquém. A súplica de Siquém aqui reflete a prática cultural de compensar ou oferecer restituição, sugerindo que qualquer rixa entre as famílias poderia ser remediada por meio de negociação.
À medida que a narrativa prossegue, esse pedido destaca o quão profundamente ele espera obter aceitação e consertar as coisas. No entanto, o arrependimento genuíno permanece incerto, como os versículos subsequentes e as ações dos filhos de Jacó revelarão que há ressentimentos mais profundos em jogo. A Bíblia frequentemente enfatiza que a verdadeira reconciliação requer mais do que apenas pagamento material; exige humildade e restauração moral (Salmo 51:17). Siquém afirma que dará qualquer coisa por Diná: " Pede-me o quanto quiseres pelo casamento e pelo presente, e eu te darei conforme me disseres; mas dá-me a moça em casamento" (v. 12). O dote ou pagamento pelo casamento era frequentemente uma grande quantia ou um presente valioso oferecido à família da noiva como sinal de honra. Essa prática ressaltava a seriedade do casamento e a segurança que ele traria.
Da perspectiva de Siquém, ao oferecer um generoso pagamento nupcial, ele espera remover as barreiras da desconfiança e sinalizar a verdadeira aceitação de Diná. No entanto, essa ênfase em comprar benevolência ressalta um conflito de valores: para os filhos de Jacó, a injustiça infligida à irmã não é facilmente reparada pela riqueza material. Sua identidade de aliança e seus padrões de conduta revelam dimensões morais e espirituais mais profundas no casamento.
Gênesis 34:8-12 destaca o contexto antigo em que pai e irmãos negociavam em nome de uma filha ou irmã. No entanto, amor, traição, distinção da aliança e o desejo de justiça se cruzam aqui, apontando para a questão ampla: a reconciliação pode ou deve ser alcançada apenas por meio de costumes sociais e pagamentos? A história mostrará que as tentativas humanas de consertar o mal falham, a menos que estejam alinhadas com o plano de justiça de Deus (Provérbios 14:12).
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
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