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1 Coríntios 3:1-4 Explicação

Em 1 Coríntios 3:1-4, Paulo repreende os crentes em Corinto por criarem divisões entre si com base no mestre com quem mais se identificam, Paulo continua sua carta dizendo: "Eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo." (v.1).

Corinto era uma grande cidade no sul da Grécia, conhecida por seu comércio próspero e cultura diversificada, Paulo trouxe o evangelho de Cristo para Corinto e fundou sua igreja, permanecendo por um ano e meio e então partindo para estabelecer novas igrejas em lugares onde o evangelho não havia sido pregado, como era sua prática (Atos 18:1-11). Ele agora aborda a falta de maturidade espiritual em seus leitores, ele os chama de criancinhas em Cristo, isso indica que eles estão nos estágios iniciais de crescimento para amadurecer em sua fé. Jesus chamou a crença nele de um novo nascimento (João 3:3) como Paulo afirma em 2 Coríntios 5:17, o novo nascimento resulta em uma nova criação que está em Cristo, o objetivo então é que as criancinhas em Cristo cresçam até a maturidade.

Na antiga Corinto, a cultura grega dominante centrava-se na idolatria, que era basicamente uma justificativa moral para a exploração e a imoralidade. Essas criancinhas em Cristo saíram dessa cultura e ainda estavam cercadas por ela, portanto, a imoralidade era, sem surpresa, prevalente na igreja de Corinto. Veremos isso mais tarde, quando Paulo os admoestará a lidar com a imoralidade flagrante dentro do corpo da igreja (1 Coríntios 5:1-2).

A frase "não vos pude falar como a espirituais" implica que Paulo desejava ensinar-lhes as verdades mais profundas da Palavra de Deus, mas que o seu nível de maturidade atual não era suficiente. Quando os coríntios chegaram à fé, esses crentes eram como uma criança que ainda não conseguia se alimentar de alimentos sólidos. Os crentes coríntios que receberam esta carta não estavam preparados para receber o ensino destinado aos maduros quando Paulo viveu entre eles.

Isso era de se esperar, afinal, os crentes de Corinto eram recém-nascidos em Cristo, no entanto, Paulo ressalta que as coisas não mudaram. Embora devessem ter amadurecido além de criancinhas em Cristo, ainda são bebês. Paulo fala da imaturidade anterior deles e de como ela não progrediu adequadamente:

Paulo diz: "Leite vos dei a beber, não vos dei comida; porque ainda não podíeis." (v. 2).

Paulo usa a metáfora da dieta de uma criança para ilustrar a capacidade dos coríntios de compreender verdades espirituais, assim como o sistema digestivo de um bebê tem limitações, o mesmo acontece com os crentes jovens e imaturos, assim como bebês precisam de comida simples, bebês espirituais precisam de ensinamentos elementares. Isso infere que o que Paulo escreve a seguir é o que ele também considera elementar.

Isso indica que o ensinamento a seguir é muito básico. É o ABC da fé cristã. De fato, podemos considerar que o que veremos neste capítulo, Paulo apresenta como o básico dos básicos. Podemos considerar isso um resumo:

• Os crentes devem se unir em seguir a Cristo em vez de se dividir em seguir homens, mesmo que esses homens sejam professores fiéis da palavra de Deus.
• Os crentes não devem se concentrar em agradar aos homens ou ganhar recompensas de homens, mas sim em agradar a Deus e ganhar recompensas Dele.
• • Tudo o que fazemos nesta vida que não é para Cristo não durará; queimará no julgamento de Deus.
  • Tudo o que fazemos por Cristo perdurará e será grandemente recompensado.
• Nossos corpos são o templo do Espírito Santo, e se profanarmos o templo de Deus haverá consequências terríveis.
• Somos salvos pela graça, pela fé, com base na obra consumada de Cristo, portanto, nada disso afeta nossa condição de filhos de Deus. Mas não queremos ser salvos apenas "como que pelo fogo". Queremos prosperar. E fazemos isso focando em Cristo, não nos homens.

Estes são os princípios básicos: concentre-se em agradar a Cristo, tanto agora quanto na era vindoura, e obteremos o máximo benefício da vida, tanto agora quanto na eternidade. Hebreus 6:1-2 diz algo semelhante, chamando o ensino sobre o "julgamento eterno" de "ensino elementar sobre o Cristo".

Aqui em 1 Coríntios, Paulo apresentará alguns princípios básicos que preparam os coríntios para avançarem para tópicos adequados que os levem a níveis de maior maturidade. Eles precisam deixar de ter uma visão temporal e terrena e passar a ter uma perspectiva eterna da vida.

Paulo explica: "Ainda agora não podeis, porque ainda sois carnais. Porquanto havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?" (v. 3).

Viver como meros homens é viver da mesma forma que viviam antes de serem redimidos pela fé em Cristo e habitados pelo Espírito Santo. Suas vidas não estão sendo transformadas porque suas mentes não estão renovadas (Romanos 12:2). Eles ainda estão sendo conformados ao mundo como meros homens e vivem vidas carnais.

A palavra grega traduzida como carnal é "sarkikos". É o adjetivo de "sarx", geralmente traduzido como "carne". Paulo descreve a natureza pecaminosa inata com a qual todos os humanos nascem como algo que precisa ser crucificado e substituído pelo Espírito. Em Gálatas 5:16, Paulo apresenta a carne como inimiga interior do Espírito. Paulo fornece um modelo mental para os crentes de que a nossa escolha mais básica do dia a dia, mesmo a cada momento, é seguir a carne ou o Espírito.

Em Romanos 6:13, Paulo apresenta o mesmo modelo mental, descrevendo a escolha básica de um crente como sendo entre apresentar os "membros" do nosso corpo "ao pecado" como "instrumentos de injustiça" ou, melhor dizendo, "apresentar-vos a Deus como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça". No modelo mental bíblico, não existe uma terceira via, aescolha "farei do meu jeito" é seguir "sarx", a carne, é obedecer à injustiça.

A justiça bíblica é simplesmente andar de acordo com o desígnio de Deus. Seu desígnio é que andemos em harmonia com Ele, portanto, quando andamos separados da harmonia com Ele, seguindo nosso próprio caminho, estamos seguindo o caminho de Satanás e fazendo a sua vontade. Jesus mostrou isso ao apóstolo Pedro, dizendo: “Mas ele, voltando-se, disse a Pedro: Sai de diante de mim, Satanás; tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não cuidas das coisas de Deus, mas sim das dos homens.” (Mateus 16:23).

Como evidência de que os crentes coríntios estão vivendo de maneira carnal, em vez de piedosa, Paulo cita que há inveja e contenda entre vocês. Em Gálatas 5:15, Paulo afirma que andar na carne leva a um padrão em que as pessoas “se mordem e devoram umas às outras”, Paulo também lista as “obras da carne” como incluindo “inimizades, contendas, ciúmes, acessos de ira, disputas, dissensões, facções” (Gálatas 5:20). Essas são ações que decorrem de uma perspectiva de que “eu ganho quando você perde”. Ou, dito de forma mais completa, “eu ganho na vida quando exploro, arruíno ou denigro o outro”.

Esta é uma perspectiva falsa - uma perspectiva que parte dos desejos carnais dos homens, e não da verdadeira perspectiva de Deus. Na economia de Deus, a vida vem de servir, amar e dar. Na economia do mundo, a vida vem da extração, da exploração e do abuso.

Portanto, quando esses coríntios demonstram inveja e contenda, eles estão andando como meros homens e não como filhos reais do Rei dos reis e Senhor dos senhores, que os redimiu e os dotou com Seu poder de ressurreição.

Então, Paulo os lembrará de alguns princípios básicos que estabelecerão a base para a mudança de comportamento. E o ponto-chave que Paulo os lembrará é este: cada ação que tomarmos será julgada por Cristo, portanto, nossos olhos devem estar fixos nele (1 Coríntios 3:13-14).

Paulo agora cita a fonte específica de sua divisão, afirmando: Pois, se um disser: Eu sou de Paulo; outro, porém: Eu, de Apolo; não é assim que sois homens? (v. 4).

Não nos é dito onde Paulo obteve informações sobre essa divisão. Mas podemos imaginar que alguns dos que diziam "Eu sou de Paulo" possam ter pedido sua ajuda para lutar contra aqueles que diziam "Eu sou de Apolo". Quando vivemos com uma perspectiva carnal, é natural esperarmos que outros também tenham uma perspectiva carnal. Aqueles que diziam "Eu sou de Paulo" provavelmente esperariam ganhar o favor de Paulo dizendo-lhe: "Estamos com você, Paulo".

Em vez disso, Paulo se concentra na realidade de que esta é uma perspectiva carnal, o próprio Paulo não é de Paulo, Paulo é de Cristo. Não é natural que alguém diga aos seus seguidores: "Vocês não devem me seguir" é mais natural, neste mundo, que líderes busquem acumular e cultivar seguidores. Parece que uma das razões pelas quais Jesus elogiou tanto João Batista foi porque ele desempenhou corretamente seu papel e não sucumbiu àqueles que desejavam que ele se proclamasse o messias e criasse seguidores para si (João 1:21-23).

Mas Paulo não quer ser deste mundo, ele não quer viver como um mero homem e não quer que os crentes de Corinto vivam como meros homens, ele quer que eles vivam vidas transcendentes no poder da ressurreição de Jesus e quer que eles vivam com os olhos em Jesus, e não nele mesmo ou em qualquer outra pessoa.

Ao se alinharem com Paulo ou Apolo, os coríntios estavam fragmentando a comunidade da igreja.

Apolo era um judeu cristão culto que desempenhou um papel significativo na igreja primitiva, com um ensino eloquente (Atos 18:24-28). Paulo não dirá nada negativo sobre Apolo aqui. Ele apenas dirá que Apolo é um conservo de Cristo que ajudou os coríntios a crescerem na fé.

Paulo não tinha vergonha de denunciar falsos mestres. Seguem alguns exemplos:

• Em Romanos 2:24 e 3:8, Paulo condena algumas “autoridades” judaicas concorrentes por serem hipócritas que blasfemavam e difamavam falsamente o evangelho da graça.
• Em Gálatas 1:7-9, 5:10, 12, Paulo confronta falsos mestres por pregarem um evangelho diferente e levarem os crentes gálatas ao erro, dizendo que esses mestres deveriam ser “amaldiçoados”.
• Em 2 Coríntios 11:3, Paulo confronta “falsos apóstolos” que estão explorando e enganando os coríntios.
• Em Tito 1:10-16, Paulo identifica homens que são “rebeldes” e que “devem ser silenciados porque estão perturbando famílias inteiras”.

Podemos inferir disso que, nesta carta aos Coríntios, Paulo não estava tentando ser gentil, em vez disso, ele estava simplesmente identificando a realidade de que ele e Apolo tinham papéis diferentes servindo a Deus, mas a chave era justamente essa: ambos eram servos de Deus. Não deveriam ser seguidos, em vez disso, deveriam ser instrumentos para ajudar os crentes coríntios a aprenderem a andar pela fé em Cristo.

Como Paulo logo enfatizará, Cristo é o fundamento (1 Coríntios 3:11), e é somente em Cristo que verdadeiramente encontramos nossa identidade suprema. Paulo não quer seguidores que digam "Eu sou de Paulo". Ele quer direcionar os crentes coríntios para Cristo, pois é a Ele que prestarão contas.

E, como Paulo notará, ele também prestará contas a Cristo (1 Coríntios 3:13). Paulo enfatizará isso na outra carta registrada no Novo Testamento que escreveu aos crentes em Corinto (2 Coríntios 5:10). O próprio Paulo está olhando para Cristo, e é por isso que ele não apoia o desenvolvimento de pessoas que dizem "Eu sou de Paulo". Ele quer direcionar todos os homens para Cristo.