
Em 1 Pedro 2:18-20, Pedro continua descrevendo como é para os crentes fazerem a escolha sábia de viver como servos de Deus. Além de honrar os outros, amar os irmãos na fé, temer a Deus e respeitar as autoridades humanas (1 Pedro 2:17), Pedro acrescenta: "Servos, sede sujeitos com todo o temor a vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos perversos." (v. 18).
Não somente os cidadãos devem ser submissos às autoridades governamentais, como também os servos devem ser submissos aos seus senhores com todo o respeito. A palavra grega traduzida como servos, “oiketes”, refere-se a um escravo doméstico, que tinha um status mais elevado do que um escravo, “doulos” (1 Pedro 2:16).
Embora o servo doméstico tenha um status social mais elevado do que o escravo, ambos têm a mesma obrigação de se submeter aos seus senhores. Eles são instruídos a se colocarem voluntariamente sob a autoridade do seu senhor e a trabalhar para ele. O apóstolo Paulo reconheceu essa ordem de autoridade em Filemom 1:13-14, quando enviou Onésimo de volta ao seu senhor após fugir sem permissão.
Essa obediência deve ser feita com todo o temor, a palavra grega traduzida como temor é "phobo", que também pode ser traduzida como "respeito". Esta é a mesma raiz usada dois versículos antes, quando os crentes foram instruídos a "temer a Deus" (1 Pedro 2:17). Os humanos temem outros humanos porque se preocupam com o que os outros pensam deles, desejando afirmação em vez de rejeição. As pessoas temem os outros por se preocuparem com as consequências que a outra pessoa pode causar. 1 Pedro 2:17 ordena aos crentes que "temam a Deus", o que lhes diz para colocar a preocupação com a afirmação e as consequências de Deus acima da de qualquer pessoa.
Há uma hierarquia de medo inferida, devemos temer a Deus em primeiro lugar, depois, como parte do temor a Deus, devemos adotar esses outros comportamentos e devemos temer ou respeitar as autoridades governamentais e os empregadores.
No mundo antigo, ser servo às vezes era um acordo econômico. Em Israel, o prazo máximo de contrato permitido para qualquer hebreu submetido à escravidão era de seis anos, após esse tempo eles seriam libertados e receberiam recursos para recomeçar suas vidas como homens livres (Deuteronômio 15:12-13). Em termos modernos, podemos aplicar a instrução ao emprego. Os empregados devem temer ou respeitar os empregadores. Este deve ser um respeito unilateral aplicado não somente aos bons e moderados, mas também aos perversos. (v. 18).
Podemos pensar que devemos respeitar apenas empregadores que são bons, no entanto, assumir tal posição ("Só respeitarei um empregador que seja bom") nos coloca em uma posição de julgamento, decidindo o que é bom. Em vez disso, assim como não devemos condenar os outros, não devemos condenar os empregadores.
Devemos respeitá-los sendo ótimos funcionários, independentemente de acharmos que estamos sendo tratados bem ou mal. É claro que, como devemos nos comportar como "homens livres" (1 Pedro 2:16), somos livres para mudar de empregador, mas, enquanto estivermos empregados, devemos trabalhar como para o Senhor, para aquele empregador.
Paulo diz algo semelhante em Colossenses a respeito de senhores e escravos, e então faz esta declaração geral que se aplica a qualquer circunstância relacionada ao trabalho:
“Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que do Senhor recebereis a recompensa da herança. Estais servindo a Cristo, o Senhor”
(Colossenses 3:23-24)
Nossa verdadeira e duradoura recompensa virá de Deus pelo trabalho que realizamos, Ele é o nosso empregador supremo. É mais fácil obedecer a patrões que não são apenas bons, mas também gentis, o que implica atitudes e ações gentis, corteses e tolerantes. Mas devemos deixar de julgar a dignidade do nosso empregador e trabalhar para o Senhor.
Pedro está desenvolvendo o tema de que sofrer injustamente por fazer o bem é um testemunho digno no versículo 19. No próximo capítulo, ele enfatizará que sofrer injustamente nos coloca no caminho de seguir o exemplo de Jesus, que sofreu injustamente pelos pecados do mundo (1 Pedro 3:14-15, 18).
É, sem dúvida, mais desafiador servir fielmente e ter uma boa atitude em relação a empregadores perversos, que pode ser alguém antiético ou injusto. Mas os crentes são convidados a fazer isso como uma questão de seu testemunho fiel.
Cabe a cada crente ordenar a prioridade das diversas autoridades mas a prioridade máxima é honrar a Deus, depois, as autoridades governamentais, e depois outras autoridades, como os empregadores. Às vezes, é difícil equilibrar, no caso de Pedro, em certo momento, ele teve que se recusar a seguir as autoridades religiosas porque suas diretrizes conflitavam com os mandamentos de Deus (Atos 4:19-20). Há uma hierarquia de autoridades que cada crente deve administrar, como para o Senhor (Colossenses 3:23).
Pedro aborda uma situação em que alguém é tratado injustamente por uma autoridade: Pois isso é agradável, se alguém, por ser cônscio de Deus, suporta tristezas, padecendo injustamente. (v. 19).
O início do verso se divide desta forma:
É prometido que o favor de Deus será, de fato, concedido a alguém que persevera enquanto sofre injustamente se sua motivação for servir a Deus:
É uma promessa de que Deus favorecerá aqueles que sofrem injustiças se o fizerem por motivo de serviço a Ele. Mas o favor, ou graça, de Deus é sempre uma escolha de Deus. Nunca é uma obrigação que pode ser imposta a Deus, porque não há padrão maior do que Deus; Deus é o padrão. Deus pode julgar nossas motivações interiores melhor do que nós mesmos as conhecemos (Hebreus 4:12).
A última parte do versículo fala do sofrimento suportado:
No versículo 19, a palavra grega “pascho” é traduzida como tristezas. Pedro usa “pascho” onze vezes nesta carta:
Essa frequência de discussão sobre sofrimento indica que suportar o sofrimento pela causa de Cristo é um tema importante da carta de Pedro. O apóstolo Paulo também faz disso um tema frequente. Por exemplo, em Romanos 8:17, ele afirma que sofrer como Cristo sofreu é um meio necessário para obter a recompensa de reinar com Ele (para sermos "coerdeiros").
Felizmente, a escravidão foi ilegalizada em muitas culturas modernas. Em muitos casos, a escravidão consistia em uma pessoa possuir outra como propriedade vitalícia, no entanto, também havia aplicações da escravidão que eram principalmente de natureza econômica. Esse era o caso na Lei do Antigo Testamento, onde a escravidão entre os hebreus era um arranjo econômico.
Por exemplo, qualquer pessoa que comprasse um compatriota israelita era obrigada a libertá-lo após seis anos, bem como a fornecer-lhe recursos suficientes para recomeçar suas vidas (Deuteronômio 15:12-14). Havia uma relação econômica específica por um período específico de tempo. De fato, a Lei exigia que o senhor tratasse a pessoa comprada como um assalariado, e não como um escravo (Levítico 25:39-40). O contexto dessas leis indica que a pessoa acabava em condição de escravidão por passar por dificuldades econômicas, e fazia esse acordo como forma de prover sua recuperação financeira.
Este modelo bíblico é paralelo aos contratos de trabalho modernos, os funcionários modernos também são contratados por um período específico. Exemplos incluem contratos sindicais, contratos de trabalho pessoais ou contratos de prestação de serviços, como os de atletas profissionais, nesses contratos, o pagador e o beneficiário têm obrigações específicas estabelecidas entre si, com requisitos específicos que são aplicáveis durante o período especificado.
Às vezes, os empregadores são irracionais ou abusivos, às vezes, os funcionários podem roubar ou prejudicar a empresa para a qual trabalham e todos prestarão contas a Deus por suas escolhas (Romanos 2:5-6). Um ponto importante que Pedro destaca é que, independentemente da posição terrena, os crentes em Jesus devem se comportar com os outros como Deus deseja que se comportem, independentemente de esse comportamento ser recíproco. O apóstolo Paulo diz algo semelhante em Romanos 12:21: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”.
O princípio é obedecer às autoridades terrenas até o ponto de violar a própria consciência perante Deus. Pedro deu um exemplo nesse sentido ao se recusar a parar de pregar o evangelho após ser ordenado a ficar em silêncio pelas autoridades judaicas (Atos 4:19-20). Pedro e os outros discípulos escolheram desobedecer, mas estavam preparados para sofrer as consequências. Confiaram em Deus para obter força para suportar qualquer sofrimento doloroso e injusto que pudessem receber como resultado mas, tentaram obedecer às autoridades governamentais sempre que possível.
O princípio de que suportar o sofrimento por amor a Cristo encontra graça aos olhos do Senhor é repetido no versículo seguinte. Agora, Pedro deixa claro que esse princípio não se aplica ao sofrimento devido a comportamento injusto: Pois que glória é, se sofreis com paciência, quando cometeis pecado e sois, por isso, esbofeteados? Mas, se sofreis com paciência, quando fazeis o bem e, por isso, padeceis, isso é agradável a Deus. (v. 20).
Primeiro, o comportamento pecaminoso e o resultado são expressos na forma de uma pergunta: "Que glória é?". A ideia de nenhum glória aqui contrasta com o favor de Deus nos versículos 19 e 20. A questão é que sofrer nas mãos de autoridades por comportamento justo conquista o favor de Deus, mas sofrer nas mãos de autoridades por mau comportamento não dá mérito algum.
Se recebermos uma multa por excesso de velocidade, estamos recebendo apenas o que merecemos, esta é a aplicação correta das autoridades, exercendo a "ira" de Deus pela aplicação correta da autoridade concedida por Deus para resistir ao mal (Romanos 13:1, 4). Não há crédito de Deus por sofrer consequências nas mãos das autoridades por mau comportamento. O crédito ou favor de Deus só se aplica se estivermos fazendo o que é certo e sofrermos.
A frase "Pois que glória é" é seguida por uma declaração condicional que começa com "se". Este "se" indica que esta é uma situação verdadeira que tem três partes:
Portanto, a resposta esperada é "nenhuma" à pergunta retórica: "Pois que glória é, se sofreis com paciência?" (v. 20). Não há mérito esperado, nem favor de Deus, se recebermos consequências adversas das autoridades, que sejam apropriadas ao nosso mau comportamento.
Pedro contrasta o sofrimento de consequências justas por mau comportamento com uma segunda situação oposta, de sofrimento de consequências injustas por bom comportamento. Mas, indicando um contraste, se, novamente significando que isso é verdade, quando cometeis pecado e sois, por isso, esbofeteados? Mas, se sofreis com paciência, quando fazeis o bem e, por isso, padeceis, isso é agradável a Deus. (v. 20).
Esta segunda situação tem quatro partes: comportamento correto, consequências, resposta e aprovação:
O propósito desses dois cenários reforça a verdade atemporal de que a obediência agrada a Deus (1 Samuel 15:22) e quando fazemos a coisa certa em obedecer à Palavra de Deus diante da oposição e da perseguição, isso agrada especificamente a Deus e um dia seremos recompensados por Ele (1 Coríntios 3:14-15, 2 Coríntios 5:10, Hebreus 6:10, 11:6, 1 Pedro 3:17).
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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