
Em 1 Pedro 4:7-9, Pedro afirma que o dia do juízo está se aproximando, como contexto para sua admoestação anterior de que os crentes devem viver “segundo a vontade de Deus” (1 Pedro 4:6). Um dos principais propósitos da carta de Pedro é encorajar os crentes a fazer com que suas vidas na Terra tenham significado para a eternidade, vivendo como testemunhas fiéis, seguindo o exemplo de Jesus. Pedro nos lembra que “Mas o fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, prudentes e sóbrios para oração” (v. 7).
Pedro também escreve sobre o julgamento iminente (O fim de todas as coisas está próximo) em outras partes de suas cartas. É um tema central e molda a perspectiva de Pedro sobre como viver a obediência nesta vida presente.
Em sua segunda carta, Pedro aborda a crítica de que tem havido uma constante afirmação de que Deus virá para julgar o mundo, mas as pessoas perguntam: “Onde está a promessa da Sua vinda?” (2 Pedro 3:4). Pedro responde dizendo duas coisas: a) Deus está fora do tempo; para Ele, “um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pedro 3:8); e b) Deus adiou a Sua vinda para que mais pessoas cheguem à fé e não pereçam (2 Pedro 3:9). Assim como Deus adiou o julgamento por mais de cem anos nos dias de Noé, Ele está adiando o julgamento na era atual (até o momento desta escrita).
O fim está próximo, e já está assim há dois mil anos. Mas, na perspectiva da eternidade, isso é apenas um breve instante. É porque o fim está próximo que Pedro faz três aplicações para os dias de hoje. A primeira aplicação, vinda da constante realidade de que estamos perto do fim, é a importância da oração. Portanto (porque o fim está próximo), prudentes e sóbrios para oração (v. 7).
Para que nossas orações sejam eficazes, primeiro devemos ter bom senso, ou seja, sermos capazes de pensar de maneira racional e séria, considerando as circunstâncias. Segundo, devemos ter espírito sóbrio, o que implica estarmos livres de toda forma de distração mental, a fim de sermos equilibrados e termos autocontrole (1 Pedro 1:13, 1 Pedro 5:8).
Quando Jesus orou no Jardim do Getsêmani na noite anterior à sua crucificação, pediu aos discípulos que vigiassem com Ele (Mateus 26:38). A palavra grega “gregoreo”, traduzida como “vigiar”, é traduzida em outros lugares como “estar alerta” (Mateus 25:13, 1 Pedro 5:8). A palavra grega traduzida como “sóbrio” na expressão “sóbrios para oração” é usada em conjunto com “estar alerta” (“gregoreo”) no capítulo seguinte, quando se fala em resistir a Satanás (1 Pedro 5:8).
Parece provável que, ao fazer essa admoestação aos seus discípulos, Pedro estivesse se lembrando da admoestação que Jesus lhe fizera naquela noite no Jardim.
Jesus havia exortado Pedro (e outros discípulos) a permanecerem acordados e a terem comunhão com Deus. Em vez de ficar alerta, Pedro adormeceu (Mateus 26:38-40). Jesus disse a Pedro e aos outros:
“Vigiai ['gregorio'] e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
(Mateus 26:41).
O fim estava próximo para Jesus, e Ele, sobriamente, vigiava e orava para não ceder à tentação. Ele poderia ter chamado uma legião de anjos para resgatá-Lo, mas escolheu, em vez disso, fazer a vontade de Seu Pai (Mateus 26:53, Lucas 22:42).
Ter a mente clara e sem distrações é essencial para a oração. A expressão "para" ou "com o propósito de" é a tradução da preposição grega "eis", que neste contexto denota propósito. A palavra "oração " é um termo geral usado para se referir a uma petição dirigida a Deus (1 Pedro 3:7). O termo original para oração é plural e poderia ser traduzido como "orações".
Pedro cedeu à tentação, negando Jesus três vezes; essa falha o deixou profundamente desapontado (Mateus 26:75). Parece provável que ele esteja exortando outros a não cometerem o mesmo erro que ele. Ele deseja que permaneçam sóbrios e vigilantes em suas orações para não caírem em tentação.
Além da oração, Pedro faz uma segunda aplicação, vinda da proximidade do fim de todas as coisas: tendo, antes de tudo, ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (v.8).
A expressão "antes de tudo" indica que o amor é uma prioridade acima de tudo (1 Coríntios 13:13, João 13:34). Como amar o próximo é uma prioridade, os crentes são instruídos a ardente caridade uns para com os outros. A ideia por trás da expressão "ardente caridade" é a de manter uma devoção inabalável (Atos 12:5). Essa devoção inabalável, neste contexto, refere-se ao amor que vocês têm uns pelos outros (1 Pedro 1:22).
A palavra amor vem do grego “ágape”, que se refere ao amor de escolha. Podemos escolher amar a coisa certa ou a coisa errada. Em 1 João 2:15-16, João adverte os crentes a não amarem (“ágape”) as coisas do mundo. Pedro exorta os crentes a escolherem amar uns aos outros como Cristo nos amou. Cristo escolheu seguir a vontade do Pai e morrer por nós. Como resultado, o Seu sangue cobriu os nossos pecados (Apocalipse 1:5). Da mesma forma, devemos escolher amar os outros de tal maneira que o nosso amor cubra uma multidão de pecados.
O amor sacrificial de Cristo coloca as necessidades dos outros acima do nosso próprio conforto ou desejos. Esse amor altruísta é direcionado uns aos outros, ou seja, aos irmãos na fé, no corpo de Cristo (1 Pedro 1:22). Isso está em consonância com o novo mandamento que Jesus deu aos seus discípulos:
“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.”
(João 13:34)
Ao dar esta admoestação antes de tudo, ardente caridade uns para com os outros, Pedro pode ter se lembrado deste mandamento de “amar uns aos outros” que ouviu na presença de Jesus.
O fim desta era está próximo, mas há outra razão para mantermos esta devoção inabalável de amor uns pelos outros. É porque o amor cobre uma multidão de pecados. Isso não significa que o amor pagou a pena pelos pecados, somente a morte de Cristo o fez; Jesus morreu de uma vez por todas (Romanos 6:10).
Pelo contrário, o amor fortalece a conexão humana e o trabalho em equipe, e põe fim à contenda e à discórdia. Como Paulo disse em Gálatas 5:13-15, andar no Espírito e amar uns aos outros cria uma cultura de serviço mútuo, enquanto andar na carne cria uma cultura onde as pessoas “se mordem e se devoram umas às outras”.
O que significa cobrir uma multidão de pecados é a disposição de perdoar os pecados dos outros. Pedro provavelmente se lembra da seguinte conversa com Jesus:
Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
(Mateus 18:21-22).
Outras passagens das Escrituras confirmam essa verdade (Provérbios 10:12, Tiago 5:20, 1 Coríntios 13:5).
Podemos inferir que Pedro está transmitindo três lições importantes que aprendeu durante o tempo em que caminhou na Terra com Jesus.
Além da oração e do amor, Pedro revela uma terceira aplicação para os crentes à medida que o fim desta era se aproxima: exercitando hospitalidade uns com os outros sem murmuração (v. 9).
A ideia de hospitalidade reside em abrir a casa para o serviço (1 Timóteo 3:2, Tito 1:8, Romanos 12:13, Hebreus 12:2). Isso implica um espírito de doação, com foco nas necessidades dos outros. É interessante notar que Pedro enfatiza o compartilhamento do nosso tempo e espaço, em vez dos nossos recursos financeiros. Ao conectarmos esse mandamento de sermos hospitaleiros uns para com os outros com o amor fervoroso que temos uns pelos outros, podemos inferir que uma parte material do amor fervoroso é compartilhar nosso tempo e nossa presença.
É provável que, durante essa época, esses crentes se reunissem regularmente nas casas uns dos outros. Vemos isso em menções por todo o Novo Testamento (Romanos 16:5, 1 Coríntios 16:19, Colossenses 4:15, Filemom 1:2).
Parte dessa admoestação pode ser para que cada um dos crentes demonstre generosidade, abrindo suas casas para facilitar a comunhão da assembleia dos crentes. O Novo Testamento é enfático ao afirmar que viver como testemunhas fiéis é uma atividade em equipe e que devemos nos reunir regularmente com o propósito de nos incentivarmos mutuamente às boas obras, sabendo que o dia do juízo está próximo (Hebreus 10:24-25).
Este ministério familiar deve ser centrado uns com os outros, referindo-se aos irmãos na fé, conforme indicado pelo contexto (1 Pedro 1:22; 4:8). Deve também ser realizado de boa vontade e com alegria, sem murmuração. O significado de "sem murmuração" refere-se a expressar desagrado por meio de murmurações (Filipenses 2:14; Atos 6:1; João 7:12). Isso é semelhante à afirmação de Paulo de que "Deus ama quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:7).
O argumento de Pedro é que, quando os crentes vivem com o fim em mente, eles concentram seu tempo e esforço em coisas que importam para a eternidade, como oração, amor e hospitalidade. Essa perspectiva eterna torna essas atividades algo prazeroso, em vez de árduo. Viver com o fim em mente é viver de forma a agradar a Deus em todas as coisas, sabendo que todos os crentes serão julgados por Ele e receberão recompensas por sua fidelidade, ou perderão recompensas por sua falta (2 Coríntios 5:10).
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
The Blue Letter Bible ministry and the BLB Institute hold to the historical, conservative Christian faith, which includes a firm belief in the inerrancy of Scripture. Since the text and audio content provided by BLB represent a range of evangelical traditions, all of the ideas and principles conveyed in the resource materials are not necessarily affirmed, in total, by this ministry.
Loading
Loading
| Interlinear |
| Bibles |
| Cross-Refs |
| Commentaries |
| Dictionaries |
| Miscellaneous |