
Na introdução do Salmo 44:1-3, lemos: Ao cantor-mor. Salmo dos filhos de Corá. Masquil. Essa frase introdutória aponta para uma composição musical destinada ao culto, elaborada por um grupo chamado filhos de Corá. Esses filhos de Corá viveram no antigo Israel por volta da época em que o Rei Davi (1010-970 a.C.) lhes atribuiu funções especiais no coro do templo, o que demonstra seu papel fundamental no louvor e na devoção de Israel. Eles deram continuidade a um legado familiar que começou gerações depois que o primo de Moisés, Corá, se rebelou contra a liderança de Deus no deserto (Números 16), mas deixou um remanescente de sua linhagem para servir fielmente. Mesmo sem se referir a isso por um termo específico, essas palavras introdutórias nos convidam a mergulhar no âmago do culto coletivo do povo de Israel.
Em um tom reflexivo, os filhos de Corá lembram à congregação que, antes de tudo, esta composição foi arranjada para o canto público e a contemplação. Tal arranjo teria sido executado em Jerusalém, que era o centro religioso do povo de Deus. Jerusalém, localizada na região montanhosa da antiga Judá, servia como local do templo, reunindo os seguidores de Deus em um único lugar de devoção. Este versículo afirma que a música e o ensino estavam intrinsecamente ligados para destacar o poder e a misericórdia de Deus para todos os que ouvissem.
Ao mesmo tempo, sua designação como Masquil indica uma forma de instrução lírica destinada a aprofundar a compreensão dos fiéis sobre o caráter de Deus e Suas obras na história. Os filhos de Corá, ao criarem esta obra-prima literária e musical, buscaram imergir os ouvintes em uma atmosfera onde os feitos passados do Senhor pudessem guiar sua fé presente. Dessa forma, o título sinaliza que as palavras seguintes narrarão os grandes feitos de Deus e inspirarão reverência nos corações.
O Salmo inicia sua súplica: Com os nossos ouvidos, temos ouvido; nossos pais nos têm contado o que fizeste nos seus dias, nos dias antigos (v. 1). Isso se refere à consciência que Israel tinha das maravilhas de Deus, transmitidas de geração em geração. A terra que habitavam não foi conquistada por seu poder e força, mas pelas obras de um Deus soberano que interveio em favor do seu povo. A expressão “nossos pais nos têm contado” revela uma cultura que acreditava no valor do testemunho, recontando memórias da bondade de Deus para fortalecer a fé das novas gerações.
A menção de “nos dias antigos” remete o leitor ao período em que os ancestrais de Israel foram libertados da escravidão no Egito, vagaram pelo deserto e, por fim, entraram na Terra Prometida. Os historiadores costumam datar o Êxodo por volta do século XV ou XIII a.C., dependendo da perspectiva acadêmica, mas todos concordam que foi um ato significativo de Deus libertando seu povo da opressão. A transmissão dessas histórias formou a identidade central da comunidade israelita, que dependia do poder de Deus para se sustentar.
Ecos desse versículo podem ser vistos no Novo Testamento, onde os crentes são igualmente encorajados a compartilhar testemunhos do poder de Deus, lembrando uns aos outros de que Suas obras permanecem constantes por todas as gerações (Hebreus 13:8). Ao recordar esses testemunhos, as pessoas se fortalecem mutuamente, mantendo viva e ativa a verdade do amor inabalável de Deus em todas as épocas.
A composição continua: Por tuas próprias mãos, desapossaste as nações e os plantaste a eles. Afligiste os povos e a eles os estendeste largamente (v. 2). Aqui, o Salmo chama a atenção para um evento crucial: a mão de Deus removendo nações estrangeiras da terra de Canaã para que Israel pudesse se estabelecer ali. Canaã estava localizada na região do Levante, abrangendo áreas do atual Israel, da Cisjordânia, do oeste da Jordânia e porções do Líbano e da Síria. Ao longo dos séculos, muitas nações habitaram e disputaram este território, mas as Escrituras de Israel atestam que foi o Senhor quem concedeu ao seu povo escolhido o direito de se estabelecer naquela terra.
Quando o texto diz “afligiste os povos”, reconhece que foi Deus quem trouxe juízo sobre os habitantes que resistiram à Sua vontade. Então, ao dispersá-los, Ele abriu caminho para que Israel se estabelecesse firmemente. Isso reflete a ideia de que o propósito de Deus para o Seu povo não será frustrado e ressalta o chamado para que os crentes honrem a Sua soberania sobre os destinos nacionais e pessoais. Foi algo que transcendeu a estratégia humana; Deus agiu de acordo com as promessas da Sua aliança com Abraão (Gênesis 17:7-8).
Ao longo da narrativa de Israel, houve momentos de derrota e luta em que o povo negligenciou a confiança em Deus, mas nesses versículos, o Salmista destaca como cada vitória dependeu da orientação divina, e não da capacidade humana. Ao focar na mão de Deus nesses eventos, o texto reafirma que aqueles que pertencem a Ele recebem um poder e uma proteção muito maiores do que sua própria força jamais poderia proporcionar.
A reflexão culmina na declaração: Pois não foi pela sua espada que se apossaram da terra, nem foi o seu braço que os salvou; mas a tua destra, e o teu braço, e a luz do teu rosto, porque os favoreceste (v. 3). Israel conquistou Canaã não por sua superioridade militar, mas porque o Senhor lutou em seu favor. A expressão "tua destra" e "teu braço" revela o poder íntimo de um Deus que cria e protege. Isso reforça a ideia de que a libertação e o sucesso provêm do favor divino, não da iniciativa humana.
Moisés e Josué, que lideraram o povo durante a conquista por volta dos séculos XV e XIV a.C., são exemplos primordiais de líderes que buscaram o poder de Deus acima de tudo. Eles reafirmavam continuamente ao povo que somente Deus detinha a autoridade para conduzi-los à sua herança (Deuteronômio 7:7-8). Da mesma forma, os crentes modernos são lembrados de que sua segurança não se baseia em nenhuma força ou conquista humana, mas na graça de Deus.
Assim como a aurora dissipa as trevas, o favor de Deus afasta a oposição e proporciona um lugar de bênção para aqueles que confiam nele. Este poderoso testemunho alude à vitória final de Cristo sobre as trevas, onde Ele triunfa não pela violência, mas pela mão e pelo propósito do Pai (Colossenses 2:15). O Salmo 44:3, portanto, chama todos os seguidores de Deus, tanto naquela época quanto agora, a lembrarem-se de que é pelo amor inabalável e pelo poder justo do Senhor que as vitórias são conquistadas.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
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