
Em 1 Pedro 4:1-2, Pedro começa a mostrar como os crentes devem abraçar o sofrimento de Cristo como um estilo de vida. Havendo, pois, indica uma aplicação da verdade sobre o sofrimento de Cristo apresentada no capítulo 3. A aplicação é dirigida aos crentes que sofrem, aos quais Pedro dedicou esta carta (1 Pedro 1:6). Pedro deseja que eles sofram somente por fazerem o bem; é da vontade de Deus suportar hostilidade por fazer o bem, a fim de “silenciar a ignorância dos insensatos” (1 Pedro 2:15).
Agora Pedro exorta os crentes a terem a mesma mentalidade de Cristo: Havendo, pois, Cristo padecido na carne, armai-vos também vós desse mesmo pensamento (porque aquele que padeceu na carne já cessou do pecado) (v. 1).
Pedro se esforçou bastante para explicar como Cristo padeceu na carne, referindo-se ao seu sofrimento corporal. Esse sofrimento corporal foi predito pelos profetas (1 Pedro 1:11), descrito por eles em detalhes (1 Pedro 2:21-24) e planejado com o propósito específico de redimir a humanidade do pecado (1 Pedro 3:18).
Agora, Pedro usa o propósito pelo qual Cristo sofreu como exemplo para os crentes, exortando-nos a nos armarmos também com o mesmo propósito. O verbo grego traduzido como "armai-vos" significa preparar-se ou aprontar, é uma palavra rara, usada apenas aqui no Novo Testamento. A preparação é necessária porque viver essa vida com grande propósito é difícil. Armar-se ou equipar-se/preparar-se com relação ao mesmo pensamento implica que Pedro está se referindo a uma aplicação mental/espiritual.
Podemos equiparar esse processamento mental a uma “forma de pensar” ou a uma mentalidade. Paulo usou essa mesma ideia como tema em sua carta aos Filipenses. A palavra grega “phroneo” refere-se a uma mentalidade/modelo mental/atitude, ela aparece de alguma forma dez vezes nessa breve carta.
Em Filipenses 2:5, Paulo escreve: “Tende em vós este sentimento que houve também em Cristo Jesus”. “Phroneo” poderia ser traduzido como “perspectiva”, é evidente que uma perspectiva/mentalidade/atitude é algo que podemos escolher, e podemos escolher sabiamente ou mal, a “phroneo” (mentalidade) que Paulo pediu aos filipenses que adotassem era a decisão de Cristo de que era do Seu melhor interesse seguir a vontade do Pai para:
Podemos ver isso em Filipenses 2:5-10, essa passagem afirma que Jesus deixou um lugar extremamente confortável no céu, escolheu se tornar humano e morrer pelos nossos pecados em obediência ao Pai, e, por isso, foi elevado para reinar sobre tudo. Paulo diz: “Tenham essa mesma atitude”.
Paulo deseja que também deixemos de lado o conforto circunstancial, tomemos diariamente a “cruz” de andar em obediência a Jesus e o sigamos, independentemente do custo, crendo que as suas recompensas valerão mais do que qualquer dificuldade que possamos suportar (1 Coríntios 2:9, 2 Coríntios 4:17).
Pedro está dizendo a mesma coisa, os crentes devem se armar com uma mentalidade que nos permita cumprir o mesmo propósito que Jesus. Como Jesus disse quando veio ao mundo, seu propósito era fazer a perfeita vontade do Pai:
"Então, eu disse: Eis aqui venho
(No rol do livro está escrito de mim)
Para fazer, ó Deus, a tua vontade."
(Hebreus 10:7 citando o Salmo 40:7-8).
O propósito de Jesus era fazer a vontade do Pai, era restaurar a humanidade e glorificar Seu Filho através do "sofrimento da morte" (Hebreus 2:9).
Pedro apresenta uma razão pela qual nós, como crentes, devemos adotar essa mentalidade e propósito: (porque aquele que padeceu na carne já cessou do pecado), 2para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as cobiças dos homens, mas segundo a vontade de Deus. (v. 1b-2).
A chave para a aplicação da mentalidade correta, focada no propósito adequado, é ter como objetivo central cumprir a vontade de Deus. Essa é a mesma mentalidade que Jesus tinha. De fato, Jesus disse: “Eu Sou e que nada faço de mim mesmo, mas, como me ensinou o Pai, assim falo” (João 8:28). Parece que aqui Pedro conecta o sofrimento na carne com a abstinência do pecado: aquele que sofreu na carne deixou de pecar.
Essa expressão é semelhante ao ensinamento de Paulo em Romanos 6: “porque aquele que está morto justificado está do pecado” (Romanos 6:7), isso significa que, por meio do poder da ressurreição de Jesus, temos o poder de viver sem pecado, se assim o escolhermos, fazemos isso andando no Espírito (Gálatas 5:16). Quando andamos no Espírito, andamos de acordo com o plano de Deus, que Ele estabeleceu em Sua Lei (Romanos 8:4).
O sofrimento da morte em Romanos 6 refere-se à crucificação conjunta do crente com Cristo, na qual ele não está mais sob o domínio de sua natureza pecaminosa (Romanos 6:1-7). O argumento de Pedro é que os crentes são exortados a ter o mesmo ponto de vista do Salvador crucificado e ressuscitado, para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as cobiças dos homens, mas segundo a vontade de Deus. (v. 2).
O objetivo de Pedro é levar seus leitores a se concentrarem em fazer com que suas vidas na Terra valham a pena para a eternidade. Se viverem o resto de suas vidas para satisfazer os desejos dos homens, dominados pela carne ou pela natureza pecaminosa, terão desperdiçado seu tempo na Terra e perderão a oportunidade de receber recompensas no céu. O apóstolo João aborda esse tema em sua primeira epístola, onde diz:
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele; 16porque tudo o que há no mundo, a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a vaidade da vida, não vem do Pai, mas, sim, do mundo.”
Ora, o mundo passa e a sua cobiça; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
(1 João 2:15-17).
Podemos ver nesses versículos de João que os crentes podem escolher “amar” (ágape, o amor de escolha) o mundo e seus desejos. Qualquer recompensa que obtivermos com isso é “passageira” — não durará mas se tivermos o propósito de viver a vontade de Deus, então alcançaremos aquilo que dura para sempre. Como Paulo diz, cada um terá suas obras julgadas por Deus (Romanos 2:5-6). Ele então prossegue afirmando:
“Dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam glória, honra e incorrupção.”
(Romanos 2:7).
Sabemos que essa “vida eterna” se refere a uma recompensa, pois fala de julgamento pelas obras. A posse da vida eterna é um dom concedido gratuitamente a todos os que creem (Romanos 6:23). A experiência da vida eterna é uma recompensa para aqueles que buscam “glória, honra e imortalidade” em Deus, e não no mundo. Qualquer recompensa que o mundo ofereça é passageira, a glória, a honra e o legado (imortalidade) deste mundo são inevitavelmente esquecidos mas, na economia de Deus, Suas recompensas permanecerão para sempre.
Pedro leva seus discípulos a compreenderem que, se viverem suas vidas na Terra fazendo a vontade de Deus, poderão ter a certeza de que suas vidas terrenas terão grande significado e serão ricamente recompensados no céu. Essa é a recompensa de viver para a vontade de Deus, como Jesus fez, em vez de viver para os desejos dos homens.
Às vezes, os crentes sentem incerteza quanto à vontade de Deus para eles. Podemos encontrar grande conforto em 1 Tessalonicenses 4:3, que nos diz diretamente qual é a vontade de Deus: que sejamos santificados. Isso significa que a principal vontade de Deus para nós é que andemos em obediência a Ele. Não são tanto as circunstâncias que escolhemos, mas sim como lidamos com elas que são a Sua principal preocupação.
Nos versículos seguintes, Pedro afirma que os crentes devem viver de uma maneira que reconheça que o julgamento de Deus é iminente.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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