
Em Jeremias 36:4, Baruque — cujo pai, Nerias, era de uma família respeitada ( Jeremias 32:12) — serve como fiel secretário e parceiro de Jeremias no ministério: "Então Jeremias chamou Baruque, filho de Nerias, e Baruque escreveu num rolo, conforme ditado por Jeremias, todas as palavras do Senhor que ele lhe havia falado" (v. 4). Conforme ditado por Jeremias, ele transcreve todas as palavras do Senhor (v. 4) — uma expressão abrangente que provavelmente inclui profecias proferidas ao longo de décadas. Escrever num rolo transforma a palavra falada em um registro permanente, um ato tanto de obediência quanto de preservação.
No antigo Oriente Próximo, os pergaminhos (normalmente de papiro ou couro) simbolizavam a permanência da lei e a autoridade real. Assim, este momento transforma as profecias de Jeremias de proclamação oral em documento escrito da aliança. Como Moisés ao inscrever a lei (Êxodo 24:4), Jeremias garante que a palavra de Deus sobreviva à sua própria voz. Isso também prenuncia a forma como as próprias Escrituras tomariam forma — a fala profética tornando-se texto sagrado.
Jeremias 36:5 apresenta a ordem: Jeremias ordenou a Baruque, dizendo: "Estou impedido; não posso entrar na casa do Senhor" (v. 5). A "restrição" de Jeremias pode se referir à sua prisão ou a uma proibição imposta pelo rei Jeoaquim e pelas autoridades do templo (cf. Jeremias 32:2; 36:26). O profeta que antes se colocava à porta do templo para pregar (Jeremias 7:1-2) agora está impedido de entrar. Sua exclusão dramatiza o estado espiritual de Judá: a voz de Deus está literalmente silenciada no santuário.
Ainda assim, Jeremias encontra um jeito de a palavra de Deus chegar ao povo. O confinamento físico não pode silenciar a revelação divina. Essa tensão — o mensageiro de Deus preso, mas a mensagem de Deus livre — antecipa o padrão visto posteriormente no ministério de Paulo: “A palavra de Deus não está presa” (2 Timóteo 2:9).
“Vai, pois, e lê no livro que escreveste sob minha orientação as palavras do Senhor ao povo, na casa do Senhor, em dia de jejum. E também as lerás a todo o povo de Judá que vier das suas cidades.”
Jeremias instrui Baruque a entregar a mensagem no coração do culto público — “na casa do Senhor, em um dia de jejum”. Tais jejuns eram momentos de arrependimento comunitário, frequentemente proclamados em momentos de crise (Joel 1:14; 2 Crônicas 20:3-4). Ao escolher essa ocasião, Jeremias visa a consciência da nação em um momento em que os corações poderiam estar mais sensíveis.
O alcance é amplo: “a todo o povo de Judá que vier de suas cidades”. Peregrinos de todo o reino se reuniam no templo para jejuar e orar. A leitura de Baruque torna-se, assim, uma transmissão nacional de advertência divina. O profeta, embora ausente, ainda se dirige a toda a comunidade da aliança por meio da palavra escrita.
“Talvez a sua súplica chegue ao Senhor, e cada um se converta do seu mau caminho, pois grande é a ira e a indignação que o Senhor pronunciou contra este povo.”
Aqui Jeremias revela sua motivação: a esperança de arrependimento. A palavra “talvez” reflete a humildade profética — a misericórdia de Deus nunca é presumida, mas sempre buscada. A mensagem de julgamento de Jeremias nunca é fatalista; seu propósito é a transformação. Se o povo “se converter do seu mau caminho”, a ira divina ainda poderá ser evitada.
Este versículo captura a essência pastoral do ministério de Jeremias. Ele anseia pelo arrependimento da nação, não por sua ruína. Mesmo na reta final da rebelião de Judá, Deus ainda convida à oração e à mudança. A tensão entre justiça e misericórdia — grande é a ira… mas talvez eles se convertam — permeia todo o livro e encontra sua resolução final em Cristo, que absorve a ira para estender o perdão.
“Baruque, filho de Nerias, fez conforme tudo o que o profeta Jeremias lhe ordenara, lendo no livro as palavras do Senhor, na casa do Senhor.”
A obediência de Baruque completa a cadeia de fidelidade. Ele cumpre sua missão à risca, arriscando a própria segurança ao ler publicamente uma mensagem que certamente ofenderia as autoridades. A expressão “ler do livro” não significa uma recitação casual, mas uma proclamação formal — Baruque representa a voz do profeta, e o rolo, a presença do profeta.
Por meio de Baruque, a palavra de Deus penetra no próprio espaço que havia excluído Jeremias. Dessa forma, o rolo escrito torna-se um ato tanto de desafio quanto de fé: mesmo quando o profeta não pode entrar, a palavra do Senhor penetra o templo e alcança o povo. Essa cena prenuncia momentos bíblicos posteriores em que a palavra escrita leva a autoridade divina a públicos além do alcance do profeta — culminando nas próprias Escrituras como a voz eterna de Deus para todas as gerações.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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