
Não há relatos paralelos aparentes para João 2:1-5 nos Evangelhos.
João 2:1-5 começa com Jesus e seus novos discípulos participando de um casamento em Caná da Galileia.
Ao terceiro dia, depois disso houve um casamento em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus; e foi também Jesus convidado ao casamento com seus discípulos. (v. 1-2).
João introduz este evento com a frase: "Ao terceiro dia" Esta frase parece conectar o casamento em Caná com a série de eventos que João descreveu no Capítulo 1.
O texto acima explica a razão funcional de João para a frase: "Ao terceiro dia", mas pode haver outras razões temáticas para seu uso. Temas filosóficos são frequentemente mencionados no Evangelho de João.
Ao terceiro dia poderia haver uma alusão à obra de Criação de Deus.
No relato de Gênesis 1, a obra da Criação de Deus é organizada em seis dias. Gênesis explica e especifica o que Deus fez em cada um desses dias. Jesus, que é o Logos eterno e Criador de todas as coisas (João 1:1-3), está prestes a iniciar uma nova obra. Como veremos, este casamento (outro ato da criação) será a ocasião em que Jesus realizará Seu primeiro sinal público (João 1:11). O tema da criação é explicado com mais detalhes no comentário da próxima seção (João 2:6-10).
Ao terceiro dia poderia haver uma antecipação temática da Ressurreição de Jesus.
Jesus voltou à vida no terceiro dia (1 Coríntios 15:3-4).
É possível que João tivesse razões funcionais e temáticas em mente quando descreveu esse casamento como ocorrendo ao terceiro dia.
A Galileia era um distrito romano no norte da Judeia, cujo nome se deve ao lago em forma de diamante, com 16 por 8 quilômetros de extensão, que se encontrava naquela região. A cidade de Caná ficava a 16 quilômetros a oeste do lago e a poucos quilômetros ao norte de Nazaré, cidade natal de Jesus.
Durante o banquete de casamento, algo dá errado para os noivos quando o vinho acaba: Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles não têm mais vinho. (v. 3). Isso teria sido um constrangimento social para a família do noivo, que na antiga cultura judaica era responsável por organizar um banquete extravagante, às vezes por até uma semana.
Maria introduz o problema quando se aproxima de Jesus e simplesmente diz: "Eles não têm mais vinho" (v.3). Tecnicamente, não se trata de uma pergunta, mas Jesus responde de uma forma que deixa claro que sabe que Maria está, na verdade, fazendo um pedido grandioso, "Respondeu-lhe Jesus: Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora." (v. 4).
Jesus não tem dificuldade em ouvir a verdadeira pergunta em sua declaração. Maria não está pedindo a Jesus que vá ao supermercado - ela poderia ter pedido isso a qualquer pessoa, ela está pedindo um milagre, e embora a resposta de Jesus seja um pouco confusa, Ele deixa claro que não pretendia intervir naquela situação. Jesus pergunta a Maria o que aquela situação tem a ver com os dois, já que a Ainda não é chegada a minha hora (v. 4), o que sugere que eles estão falando em código: são as únicas duas pessoas na sala que ainda conhecem o segredo da identidade divina de Jesus.
Quando Jesus afirma: "Ainda não é chegada a minha hora" - Ele provavelmente não quer dizer que Sua morte está se aproximando (esta frase assumirá esse significado ao longo do ministério de Jesus ); nem provavelmente quer dizer que Seu ministério terreno ainda não começou. O ministério de Jesus começou quando Ele foi batizado por João (João 1:29-34), e Ele também havia começado a recrutar discípulos para segui -Lo (João 1:43). Assim, parece mais provável que o comentário de Jesus demonstre que Ele não está pronto para revelar publicamente Sua identidade divina, como um milagre explícito certamente faria. Essa interpretação é corroborada pela forma como Jesus ordena a Seus discípulos e a outros que guardem esse "segredo messiânico" em vários outros lugares nos Evangelhos (Marcos 1:43-45, 8:29-30).
Em vez de se dirigir à sua mãe como "mãe" ou algo semelhante, Jesus a chama de "mulher " (v. 4). Isso pode parecer uma resposta abrupta ou ríspida, no entanto, a palavra grega traduzida como "mulher" aqui era simplesmente a palavra padrão para uma mulher adulta e, neste contexto, conotaria respeito, talvez como a palavra portuguesa "senhora". Assim, nessa troca de palavras, Jesus, por um lado, parece afirmar que Suas preocupações e missão não são idênticas às de Maria, enquanto, por outro, ainda trata Sua mãe com respeito. De fato, enquanto Maria se importa principalmente com seus amigos neste caso, Jesus deve ponderar seu pedido dentro do contexto de Sua missão maior: morrer pelos pecados do mundo (Filipenses 2:5-8; João 1:29).
Uma visão fundamental dessa conversa enigmática pode ser obtida pela maneira como Maria a encerra. Após ouvir a resposta de Jesus, "Disse sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos mandar." (v. 5). Ela simplesmente se afasta e deixa o assunto nas mãos de Jesus, em outras palavras, ela desiste de qualquer ilusão de controle e confia que Jesus fará o que for melhor. Parece que Maria entende quem Jesus é e que Ele se importa com ela, mas, ao reconhecer quem Ele é, ela deixa a Ele a decisão sobre o que fazer. Ela não diz aos servos exatamente o que acontecerá, mas os instrui a fazer tudo o que Ele disser. A fé de Maria nesse casamento em Caná é semelhante à fé que ela demonstrou quando Gabriel lhe anunciou que ela geraria milagrosamente o Filho de Deus (Lucas 1:26-38). A resposta de Maria a Gabriel naquele momento foi: "Disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo retirou-se." (Lucas 1:38). Em ambos os casos, ela aceita o que Deus fará.
Maria, portanto, oferece um modelo de fé neste caso: aqueles que desejam seguir Jesus devem apresentar-Lhe pedidos ousados (Filipenses 4:6), mas também devem abrir mão do controle de suas circunstâncias e confiar que Ele fará o que for melhor, mesmo que a vontade de Cristo não concorde com suas sensibilidades (Romanos 8:28). Neste caso, porém, Maria consegue o que deseja.
No final da vida de Jesus, O veremos praticar uma fé semelhante em Seu relacionamento com o Pai. No Jardim do Getsêmani, Ele suplicará ao Pai por uma maneira de cumprir Sua missão sem morrer na cruz, mas, no final, Jesus se submete ao plano e à vontade de Deus, Ele dirá: "Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas sim a tua." (Lucas 22:42). A declaração de Jesus ao Pai significa, mais precisamente: "Não seja feito o meu desejo, mas o teu plano".
O Getsêmani é um exemplo em que vemos a verdadeira humanidade e a verdadeira divindade de Jesus em um só momento. Especificamente, ele nos mostra que, quando a vontade humana de Jesus e Sua vontade divina estão em tensão, Ele submete Sua vontade humana à divina. É Sua total confiança em Deus que O capacita a viver uma vida sem pecado e, portanto, a se apresentar como um sacrifício irrepreensível e aceitável pelos pecados do mundo (Hebreus 10:1-18).
Assim como Maria em Caná e Jesus no Getsêmani, os crentes devem orar com valentia e, ainda assim, abrir mão do controle, devemos sempre reconhecer que o plano de Deus é superior aos nossos desejos. Tanto orar com expectativa quanto confiar que Deus fará a coisa certa são vitais para confiar em Deus. Nesta passagem, vemos evidências de que, de alguma forma, Deus responde às nossas orações e, ao mesmo tempo, é completamente soberano, essa verdade misteriosa e paradoxal nos obriga a orar como Maria. Devemos apresentar grandes pedidos a Deus, confiantes de que Ele é capaz de realizar até mesmo o que parece impossível. Sem fé é impossível agradar a Deus, e quem se aproxima de Deus precisa crer que Ele existe e que é recompensa daqueles que o buscam (Hebreus 11:6) mas também devemos estar dispostos a confiar esses pedidos a Ele e abrir mão do controle (Lucas 22:42).
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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