
Neemias 9:26-31 abre com: Mas eles se tornaram desobedientes e se rebelaram contra ti, e lançaram a tua lei para trás das costas, e mataram os teus profetas que os tinham advertido para que se voltassem para ti, e cometeram grandes blasfêmias (v. 26). Neemias relata aqui a teimosia do povo de Deus depois de terem recebido misericórdia inúmeras vezes e terem proporcionado uma vida de conforto na terra prometida. Esta cena faz parte de uma confissão pública que ocorreu em Jerusalém, a antiga cidade na região de Judá que havia sido reconstruída após o exílio babilônico. Historicamente, essas palavras vêm de meados do século V a.C., aproximadamente na época em que Neemias serviu como governador de Judá sob o domínio persa (aproximadamente 445-432 a.C.). Os líderes de Israel reconhecem que a lei de Deus e Seus profetas foram dádivas graciosas para guiar a nação, mas o povo escolheu ignorar ambos.
A frase " Lançai a vossa lei para trás das costas" fala de um completo desrespeito aos mandamentos divinos destinados a proteger a sua comunidade. Em vez de honrar a aliança que datava da época de Moisés (por volta dos séculos XV-XIII a.C.) e reafirmada pela liderança de Josué, eles priorizaram os seus próprios desejos. A matança de profetas, como aqueles que proferiram a repreensão de Deus e os apelos ao arrependimento, foi a demonstração máxima de desprezo - uma rejeição ativa das advertências e instruções de Deus.
A razão por trás dessa rebelião reside na atração das tentações mundanas. Profetas de épocas anteriores, como Elias e Isaías, enfrentaram padrões semelhantes de desobediência e insistentemente conclamaram o povo a retornar a uma vida justa. Ao ignorar o conselho divino e silenciar ativamente aqueles que falavam em nome de Deus, o povo efetivamente se isolou da voz orientadora de Deus.
O versículo 27 continua: "Portanto, tu os entregaste nas mãos dos seus opressores, que os oprimiam; mas, quando clamaram a ti no tempo da sua angústia, tu os ouviste dos céus e, segundo a tua grande compaixão, deste-lhes libertadores que os livraram das mãos dos seus opressores" (v. 27). Mesmo diante de transgressões flagrantes, Deus respondeu com compaixão quando Seu povo clamou em desespero. Esse padrão cíclico - desobediência, disciplina, arrependimento e libertação - ecoa os mesmos ciclos testemunhados no Livro dos Juízes, quando Israel repetidamente caiu nas mãos do inimigo devido ao pecado, apenas para ser resgatado por líderes escolhidos como Gideão ou Sansão.
Ao afirmar que Deus ouviu do céu, Neemias ressalta a profunda preocupação do Senhor por Seu povo da aliança, afirmando que os opressores terrenos não podem deter a capacidade de Deus de salvar. A compaixão demonstrada não é meramente um sentimento passivo; ela se manifesta por meio de uma libertação tangível. Historicamente, a nação de Israel se viu liberta de crise após crise, indicando que a misericórdia de Deus nunca a abandonou completamente.
A libertação surge aqui como uma demonstração da natureza fiel de Deus. Desde a travessia do Mar Vermelho (tradicionalmente datada por volta do século XV ou XIII a.C.) até a comunidade restaurada em Jerusalém, as intervenções do Senhor revelaram um desejo constante de libertar aqueles que se arrependem e verdadeiramente buscam a Sua face.
No versículo 28, Neemias declara: "Mas, tendo eles tido descanso, tornaram a fazer o que era mau diante de ti; por isso os abandonaste nas mãos dos seus inimigos, para que dominassem sobre eles. Quando clamaram outra vez a ti, tu os ouviste dos céus, e muitas vezes os livraste segundo a tua compaixão" (v. 28). A tragédia reside na rapidez com que o povo voltou ao pecado após o fim da crise. Eles abraçaram a ajuda de Deus quando a catástrofe os atingiu, mas retornaram à rebelião logo após a paz ser restaurada.
Apesar dessas repetidas falhas, a natureza misericordiosa de Deus é novamente destacada: "muitas vezes os livraste". Isso contrasta vividamente a infidelidade da nação com a fidelidade do Senhor da aliança. Toda vez que se viam subjugados por potências estrangeiras - fossem os filisteus, os assírios, os babilônios ou outros -, descobriam que o arrependimento sincero abria o caminho para o resgate divino.
Esse padrão admoesta os crentes de todas as gerações a evitarem o erro de buscar a Deus apenas quando surgem problemas. Deus deseja um relacionamento duradouro, não apenas uma volta temporária a Ele em momentos de crise. O versículo 28 expõe o quão prejudicial um senso superficial de devoção pode ser, ao mesmo tempo em que ilustra que a misericórdia de Deus se estende até mesmo àqueles que clamam na décima primeira hora.
Passando para o versículo 29, Neemias explica: E os advertiu, a fim de convertê-los à tua lei. Contudo, eles agiram com arrogância e não deram ouvidos aos teus mandamentos, mas pecaram contra os teus juízos, pelos quais o homem que os observar viverá. E deram de ombros obstinados, e endureceram a cerviz, e não quiseram ouvir (v. 29). A chave aqui é que as repreensões de Deus sempre tiveram o objetivo de restaurar, nunca de rejeitar. Cada advertência do Senhor visava conduzir o povo de volta às provisões vivificantes da Sua lei.
A referência a " se um homem os observar, viverá" é uma citação de Levítico 18:5 e nos lembra que a obediência aos estatutos de Deus leva ao florescimento, tanto pessoal quanto comunitário. Mas isso só pode ser alcançado vivendo pela fé. No pensamento hebraico, a lei representava o limite protetor da sabedoria de Deus; rejeitá-la significava abrir mão de um relacionamento saudável e de aliança com Ele. Historicamente, profetas como Jeremias (final do século VII a.C. - início do século VI a.C.) e Ezequiel (século VI a.C.) ecoaram essas admoestações, conclamando a nação a se arrepender e escolher a vida sob a mão de Deus.
No entanto, a resposta do povo foi marcada pelo orgulho. Um ombro teimoso e uma cerviz dura eram metáforas frequentemente usadas no Antigo Testamento para descrever um boi ou jumento resistindo ao seu jugo. Em vez de se submeter à autoridade legítima de Deus, a nação tentou trilhar seu próprio caminho, ignorando as bênçãos que advêm da humilde submissão.
Neemias continua: Contudo, tu os suportaste por muitos anos, e os advertiste com o teu Espírito, por meio dos teus profetas; contudo, eles não quiseram ouvir. Por isso, tu os entregaste nas mãos dos povos das terras (v. 30). A paciência de Deus é plenamente demonstrada aqui. Por incontáveis anos, através de múltiplas gerações, Ele não abandonou Seu povo ao primeiro sinal de rebelião. Em vez disso, Ele implorou a eles por meio de Seus profetas, capacitando esses mensageiros, pelo Espírito Santo, a compartilhar mensagens corretivas.
Isso reforça a ideia de que medidas disciplinares, como conquistas estrangeiras, não eram meros atos de ira, mas métodos para guiar o povo de volta à sinceridade. Quando os israelitas se recusaram a se arrepender, Deus permitiu que poderes externos assumissem o controle, efetivamente despertando-os para a gravidade de seus pecados. Confrontando seu cativeiro sob os povos das terras, eles perceberam o quanto dependiam do favor de Deus para uma segurança genuína.
Ainda assim, a disposição do Senhor em falar pelo Teu Espírito significa que a comunicação divina não estava presa ao passado. O mesmo Espírito que outrora guiou profetas como Amós (século VIII a.C.) ou Malaquias (por volta do final do século V a.C.) continuou a lutar com um povo que frequentemente se afastava. Mesmo em períodos de silêncio, Deus estava em ação orquestrando as circunstâncias na esperança de que eles atendessem à Sua voz.
Por fim, o versículo 31 proclama: Contudo, na tua grande compaixão, não os destruíste, nem os abandonaste, pois és Deus gracioso e compassivo (v. 31). Essa declaração culminante solidifica o tema abrangente da misericórdia que permeia toda a confissão em Neemias 9. Embora o pecado repetitivo do povo pudesse ter, com razão, causado sua destruição permanente, Deus os poupou por bondade imerecida.
Central para a identidade do Senhor revelada nas Escrituras é esta postura cheia de graça: em vez de pura ira, Ele prefere a reconciliação. A palavra compassivo aqui evoca o amor terno demonstrado por um pai que poupa e nutre um filho, mesmo quando a disciplina é necessária. Ao longo da história de Israel - seja durante o período da monarquia, o exílio ou o retorno a Jerusalém - essa mesma compaixão perdurou. A comunidade reunida na cidade reconstruída testemunhou em primeira mão que o Deus da criação desejava manter Sua relação de aliança com eles.
Essa qualidade graciosa aponta, em última análise, para o perdão abrangente oferecido por Jesus Cristo, que demonstra o coração de Deus em forma física (Romanos 5:8). Da mesma forma que a comunidade pós-exílio recebeu outra chance de servir a Deus, o ministério de Jesus estende uma comunhão renovada a qualquer um que se arrependa e deposite sua esperança nEle.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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