
Em um vislumbre notável do reino celestial, agora vemos Miguel, um príncipe chefe dos anjos (Daniel 10:13), liderando um exército angélico contra o dragão, que mais tarde é identificado como Satanás (v. 9):
Houve no céu uma guerra, pelejando Miguel e seus anjos contra o dragão (v. 7).
O livro do Apocalipse enfatizou que Deus está no trono e que toda a história humana, seja na Terra ou no céu, está sob Seu plano soberano. Este versículo revela ainda outra dimensão da história: os seres criados por Deus fazem escolhas reais que criam impacto real. Neste caso, vemos uma guerra angélica total no céu. Isso ressalta que a história humana não é meramente uma luta terrena. Ela é, de fato, parte de um conflito cósmico abrangente.
Este capítulo faz parte de um interlúdio no meio da sequência de eventos do Apocalipse, no julgamento divino da Terra. Em Apocalipse 4-11, vimos sete selos rompidos, com o sétimo selo revelando sete trombetas. Ao soar da sétima trombeta, o reino de Deus foi proclamado. A partir do Capítulo 16, veremos os julgamentos recomeçarem, com os das sete taças. Tais julgamentos vão culminar no retorno de Jesus no Capítulo 19.
Neste interlúdio, parece que estamos tendo uma visão geral da história humana. A guerra no céu (v. 7) provavelmente tem aplicação tanto no contexto imediato quanto geral. No contexto imediato, o reino dos céus foi proclamado (Apocalipse 11:15). Consequentemente, é hora do governante atual, Satanás, ser deposto. Isso resulta em um confronto entre as forças de Deus e as de Satanás, com o diabo buscando manter sua autoridade.
Vemos em João 12:31 que Satanás é o governante deste mundo, e é por isso que tudo o que há no mundo é lascivo e carnal (1 João 2:16). Jesus disse que o expulsaria. Essa expulsão começou quando Jesus morreu pelos pecados do mundo e derrotou a morte por meio de Sua ressurreição. Agora é hora da autoridade de Satanás ser eliminada. A remoção de Satanás do poder começará com a eliminação de sua autoridade nos céus.
A liderança de Miguel na guerra nos lembra que os anjos não são observadores passivos. Deus os convoca em momentos críticos para realizar Seus propósitos. Eles também são seres majestosos que não devem ser desrespeitados ou menosprezados (Judas 1:9-10).
Isso remete às afirmações bíblicas de que o céu não é apenas o lugar da morada de Deus, onde a Sua vontade é feita (Mateus 6:10). É também um campo de batalha estratégico. Esta guerra está ocorrendo no céu. Não nos são fornecidos detalhes sobre esta guerra. Vemos em passagens como Jó que Satanás tem acesso atual ao céu, mas tem limites impostos à sua autoridade (Jó 1:6, 9). Pode ser que, neste momento, Satanás tente derrubar seus limites por meio de uma invasão de força.
É interessante notar que Deus permite que Seus anjos lutem, com Miguel e seus anjos travando guerra contra o dragão. Infere-se que os anjos lutam de boa vontade. O anjo Miguel é mencionado em Judas 1:9 como sendo um "arcanjo", o que significa que ele é um príncipe ou líder dos anjos. Somos informados de que seus anjos são aqueles que lutam contra o dragão. Isso indicaria que os anjos piedosos na batalha são aqueles de uma companhia liderada por Miguel.
Também vemos um Miguel angelical no Antigo Testamento. Em Daniel 10:21, o anjo mensageiro diz a Daniel que "ninguém há que esteja ao meu lado contra estes, senão Miguel, vosso príncipe". Na tradução grega do livro de Daniel, Miguel é chamado de "arconte". "Arconte" pode ser traduzido como "príncipe", "chefe" ou "governante". "Arconte" é usado para descrever Jesus em Apocalipse 1:5, onde Ele é chamado de governante ("arconte") dos reis.
O fato de Miguel ser considerado o príncipe de Daniel indica que ele tem uma missão especial: zelar pelo povo de Israel. Embora Deus seja soberano sobre tudo e autorize tudo o que acontece, cada ser em Sua criação tem uma escolha real, e as ações por eles escolhidas têm consequências reais.
Nossa passagem continua: E não prevaleceram; nem o seu lugar se achou mais no céu (v. 8).
A frase "não prevaleceram" faz referência às forças do dragão. Isso atesta a fraqueza suprema de Satanás diante do poder onipotente de Deus. No entanto, neste caso, parece que Miguel e seus anjos foram capazes de subjugar o dragão por meio de seus esforços para resistir a ele.
Embora o dragão manipule reinos terrestres e engane muitos (Mateus 24:11, Apocalipse 12:9), seu poder falha completamente quando enfrenta a oposição de Miguel e seus anjos sob o comando de Deus.
Ao declarar que não havia mais lugar para eles no céu, as Escrituras revelam a eliminação do acesso de Satanás às cortes celestiais. Anteriormente na Bíblia, vemos Satanás entrando no céu para se apresentar diante de Deus (Jó 1:6-7). Agora, durante esta fase culminante da tribulação, ele é permanentemente expulso do reino celestial.
Em seguida, foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e, precipitados com ele, os seus anjos (v. 9).
Aqui, o grande dragão é totalmente desmascarado: ele é a antiga serpente, uma alusão direta ao Jardim do Éden (Gênesis 3:1-6). Satanás enganou Eva, o que levou à queda da raça humana (2 Coríntios 11:3). Deus criou a humanidade para ser "coroada" com a "glória e a honra" de ter autoridade sobre a Terra (Salmo 8:4-6). Podemos inferir que Satanás ganhou autoridade sobre a Terra devido à Queda (João 12:31, Mateus 4:9).
Satanás estava destinado a perder sua autoridade quando Jesus morreu e ressuscitou. Agora, esse destino está se cumprindo com a queda de Satanás. Isso parece implicar que ele será destituído de sua autoridade e acesso ao céu. Ele continuará a ter autoridade terrena por um curto período.
Isaías 14:12-15 nos diz que a ambição de Satanás era usurpar a autoridade de Deus e tomar o Seu trono. Ele e seus anjos que se juntaram à sua rebelião foram derrubados naquela época. Aparentemente, mais tarde, eles ganharam certa medida de autoridade terrena, incluindo o domínio sobre a Terra, quando Adão caiu. Eles agora serão precipitados, ou derrubados, novamente. O termo precipitado aqui parece se aplicar à autoridade celestial, pois a Terra é avisada de que sua situação vai piorar porque Satanás agora se concentrará apenas na Terra, e ele sabe que seu tempo é curto (Apocalipse 12:12).
Os nomes diabo (que significa "acusador" ou "caluniador") e Satanás (que significa "adversário") ressaltam a identidade de Satanás como o principal instigador da rebelião contra Deus. O nome de batismo de Satanás é "Lúcifer", que ironicamente significa "portador da luz". Como nos conta o apóstolo Paulo, Satanás se disfarça de anjo de luz (2 Coríntios 11:14).
A frase que descreve a serpente que engana todo o mundo destaca ainda mais a raiz do poder de Satanás: o engano. Jesus disse que Satanás era mentiroso e assassino desde o princípio (João 8:44). Podemos ver nas passagens em que Satanás interage diretamente com a humanidade que sua principal aplicação do engano é a questão de como as questões são formuladas.
Por exemplo, com Eva, Satanás enquadrou a vida como fazer escolhas usando o próprio conhecimento. Sua estrutura pode ser vista como algo assim: "Deus lhe deu uma escolha e quer que você tenha conhecimento: por que você não obteria todo o conhecimento possível para descobrir o que é melhor para você por conta própria?" É claro que seguir nosso próprio caminho na verdade levou à morte, incluindo a separação do nosso propósito original.
Satanás propôs a Eva uma estrutura em que a morte era vida e a vida era morte. Se aceitarmos a estrutura de Satanás (ou de qualquer pessoa), chegaremos às suas conclusões (ou às deles). É por isso que é preciso esforço para resistir a Satanás, para que ele fuja de nós (Tiago 4:7). Ser transformado pela renovação de nossas mentes nos equipa para resistir à falsa estrutura de Satanás (Romanos 12:1-2).
Voltando ao tema do Apocalipse - ser uma testemunha fiel que não teme a perda, a morte ou a rejeição - muitas das tribulações que sobrevêm à humanidade são autorizadas pela sala do trono, mas frequentemente se manifestam por meio das mentiras e manipulações de Satanás. Eventos como a abominação da desolação (Mateus 24:15) ocorrem porque o Anticristo surge sob a influência de Satanás, empregando o engano para ganhar a lealdade do mundo.
Apesar de tudo isso, os crentes encontram encorajamento: o diabo foi lançado à terra e sua derrota é iminente. No entanto, até que seja completamente subjugado, ele continuará a causar estragos. Enquanto o céu se alegra com sua queda, os habitantes da terra são avisados de que isso é uma má notícia para eles.
Veremos em Apocalipse 12:12 que o povo da Terra é avisado de que Satanás ser expulso do céu é para eles um grande "ai", porque ele terá "grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta". A ideia parece ser que Satanás, tendo sido expulso do céu, sabe que o fim de seu reinado está próximo, então ele quer causar o máximo de destruição possível enquanto pode.
Os crentes estão sendo avisados de que o futuro trará problemas. Mas Jesus virá como o Rei que governará com “vara de ferro” (Apocalipse 12:5). Jesus já conquistou, mas ainda não assumiu o trono de autoridade sobre a Terra. Se vencermos como Ele venceu, receberemos uma grande recompensa e seremos imensamente abençoados (Apocalipse 1:3, 3:21). Esta é mais uma exortação para que cada crente seja uma testemunha fiel que não teme a perda, a rejeição ou a morte.
O Apocalipse nos exorta a lembrar que nossa verdadeira cidadania está no reino de Deus, um reino que jamais terá fim. Portanto, podemos ter esperança e continuar perseverando em ser uma testemunha fiel, crendo na promessa de Apocalipse 1:3 de que há uma grande bênção reservada para nós se perseverarmos até o fim.
O trono de Deus está em disputa direta com as aspirações de Satanás. A expulsão final de Satanás do céu intensifica sua ira na Terra, preparando o cenário para as perseguições ferozes que em breve serão descritas.
Daniel 9 e Apocalipse juntos enfatizam que essa expulsão do céu ocorre dentro de uma sequência final de eventos que levam à inauguração do reino de Cristo. Em Mateus 24, Jesus prenuncia eventos que indicam "o fim dos tempos" e, aqui em Apocalipse 12, testemunhamos uma expulsão cósmica que se conecta com esses sinais terrenos.
Os anjos de Satanás foram precipitados com ele. Os seguidores de Satanás também foram banidos do reino celestial. Vimos em Apocalipse 12:4 que o dragão pegou a "terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra". Isso provavelmente significa que Satanás convenceu um terço dos anjos a se juntarem a ele em sua rebelião. Todos eles agora participam de seu julgamento e também são expulsos do céu.
Alguns dos anjos caídos violaram os limites estabelecidos por Deus e foram confinados no abismo como punição (Judas 1:6, 2 Pedro 2:4). É possível que alguns dos anjos de Satanás que contenderam contra Miguel e seus anjos sejam os libertados do abismo em Apocalipse 9:11. De qualquer forma, não demorará muito para que todos eles se juntem à companhia no abismo, como veremos em breve, em Apocalipse 20:1-3.
Outro ponto importante é a demonstração da autoridade soberana de Deus. O livro do Apocalipse destaca o plano escrito de Deus para o fim dos tempos. Tudo, desde os sete selos até o julgamento final das taças, já está determinado por Aquele que está sentado no trono.
Até mesmo as tentativas de Satanás de interromper ou devorar o filho da mulher (Apocalipse 12:4) tornam-se trampolins para o cumprimento da profecia. O dragão e seus aliados podem ter poder no reino terreno por "quarenta e dois meses" (Apocalipse 13:5), mas a porta do céu se fecha contra eles, refletindo sua derrota decisiva no cronograma cósmico de Deus.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
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