The Bible Says
Atos 18:5-11 Explicação

Paulo finalmente se reencontra com Timóteo e Silas em Atos 18:5-11.

Em Atos 18:5-11 Paulo havia se mudado de Atenas para Corinto durante sua viagem missionária na Grécia. Em Corinto, encontrou um quarto na casa de um casal de fabricantes de tendas, Áquila e Priscila, também fabricante de tendas de profissão, Paulo começou a trabalhar com eles durante a semana. Então, todos os sábados, Paulo ia à sinagoga de Corinto para pregar e persuadir que Jesus de Nazaré era o Messias.

Por fim, Silas e Timóteo chegam a Corinto:

Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo estava ativamente ocupado com a palavra, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo. (v. 5).

Silas e Timóteo permaneceram na cidade de Bereia, na Macedônia, enquanto Paulo navegava para Atenas (ver mapa). Os judeus tessalonicenses, hostis ao evangelho, seguiram Paulo e companhia até Bereia e estavam "agitando e incitando as multidões", então Paulo deixou Bereia para evitar uma escalada (Atos 17:13-14). Silas e Timóteo aparentemente não estavam atraindo a mesma agressividade que Paulo, então puderam permanecer em Bereia e continuar a estabelecer a nova igreja ali.

Paulo havia enviado a eles a ordem de "irem ter com ele o mais breve possível" (Atos 17:15). Embora fosse bom que Silas e Timóteo tivessem mais tempo em Bereia para formar a jovem igreja ali, isso também dificultava a pregação de Paulo. Ele não pregava visando lucro financeiro, mas trabalhava para se sustentar e não ser um peso para ninguém (1 Tessalonicenses 2:9, 2 Tessalonicenses 3:7-8, 1 Coríntios 9:12, Atos 20:33-34). Aprendemos na seção anterior que Paulo ganhava a vida fabricando tendas (Atos 18:3).

Como estava sozinho, Paulo passou a maior parte do tempo trabalhando como fabricante de tendas para pagar sua manutenção. Em Corinto, ele só conseguia pregar uma vez por semana na sinagoga.

Mas agora que Silas e Timóteo chegaram à Macedônia, Paulo pôde pregar em tempo integral. Parte da função de Silas e Timóteo na equipe ministerial de Paulo era, aparentemente, trabalhar e gerar renda suficiente para sobreviver. Embora suas necessidades fossem poucas e simples, alguém precisava ganhar dinheiro para supri-las.

Agora reunido com seus co-ministros, Paulo estava ativamente ocupado com a palavra (v. 5). Ele pôde se concentrar completamente em espalhar a Palavra, a mensagem, sobre Jesus. Paulo agora não está pregando apenas na sinagoga no sábado, mas também durante a semana, ele provavelmente também está ensinando no mercado.

O mercado no primeiro século era um centro movimentado de atividades e conversas, não apenas um lugar para trocar mercadorias por produtos. Lucas especifica que o objetivo de Paulo era pregar exclusivamente aos judeus e aos judeus convertidos naquele momento, de modo que ele estava testificando aos judeus que Jesus era o Cristo(v. 5).

Em todas as suas viagens missionárias, Paulo normalmente vai primeiro aos judeus e, se eles o rejeitarem, ele estende a mensagem aos gentios pagãos. Aqui em Corinto, ele primeiro testifica solenemente aos judeus. Essa expressão, "testificando", é usada muitas vezes no Novo Testamento, frequentemente para descrever a seriedade com que o evangelho estava sendo pregado (Atos 2:40, 8:25, 10:42, 20:21, 20:24, 23:11, 28:23).

Em outros lugares, é traduzido como "solenemente acusado" ou mesmo "solenemente advertido" (1 Timóteo 5:21, Lucas 16:28, 1 Tessalonicenses 4:6). Tem o tom de uma afirmação gravíssima. Uma advertência que deve ser levada em conta. É a coisa mais importante que Paulo pode dizer aos seus ouvintes e a coisa mais importante que eles ouvirão em suas vidas. É um assunto extremamente sério. Havia uma urgência particular para que esta primeira geração de judeus se arrependesse e cresse (Atos 2:40).

Paulo prega esta mensagem fervorosa e significativa aos judeus, ensinando-lhes que Jesus era o Cristo. Todo judeu, fosse em Israel ou em Corinto, na Grécia, conhecia a promessa da vinda de Cristo (ou "Messias", "o ungido"). As escrituras hebraicas estavam repletas de profecias proferidas por Deus ao Seu povo, de que Ele enviaria alguém para salvá-los (Daniel 7:13-14, 9:24, Salmo 16:9-11, Deuteronômio 18:15-16, Jeremias 31:31).

Paulo está dizendo aos judeus em Corinto que eles não precisam esperar pelo Cristo. Ele já veio. Ele era e é Jesus, e morreu pelos pecados do mundo e foi ressuscitado por Deus. Ele ascendeu ao Céu para sentar-se à direita do Pai como Rei do mundo (Filipenses 2:5-11). Tudo o que é necessário para ser salvo do pecado e da morte é a fé em Jesus (João 3:14-16).

Mas a maioria dos judeus em Corinto rejeita o testemunho solene de Paulo:

Mas, como eles se opusessem e blasfemassem, sacudindo ele as vestes, disse-lhes: O vosso sangue venha sobre a vossa cabeça; eu estou limpo e desde agora vou para os gentios.(v. 6).

Esses judeus de Corinto não acreditavam que Jesus era o Cristo, não viam utilidade em um messias assassinado pelos romanos. Roma ainda estava no comando de Israel e ainda era a potência mundial. A mensagem de Paulo de que eles precisavam crer que Deus havia ressuscitado aquele Homem e que Ele então ascendera ao Céu não era o que esses judeus queriam ouvir.

Talvez não tivessem utilidade para nenhum tipo de messias, muitos deles talvez se contentassem em viver a vida que viviam na próspera e bela cidade de Corinto. Resistiram ao evangelho; o rejeitaram. Blasfemaram também. Blasfemar significa "vilificar" ou "difamar" é falar mal de alguém ou dizer algo ruim.

Jesus foi frequentemente acusado de blasfêmia por afirmar ser Deus, o que os líderes judeus viam como discurso maligno e difamatório contra o Deus Santo. Eles teriam razão se Jesus fosse apenas um mero homem. Mas Jesus provou, por meio de Suas obras, repetidas vezes, que era o Filho de Deus (Mateus 3:16-17, 17:5, Marcos 2:5-12, João 9:33, 11:38-44).

Não obstante, os judeus em Corinto resistiram e blasfemaram contra a própria mensagem de Deus. Lutaram contra Deus e difamaram as boas novas de Deus. Sua resistência poderia incluir caluniar o mensageiro que anunciou o evangelho. Nesse momento, Paulo desiste dos judeus em Corinto. Seus corações estão fechados à Palavra de Deus. Eles não são receptivos. Opõem-se ao evangelho. São como a semente na "Parábola do Semeador" de Jesus, que caiu à beira do caminho e foi levada pelos pássaros (Mateus 13:19). Seus corações estavam endurecidos e eles fecharam os olhos (Mateus 13:15). Não há mais nada a fazer por eles.

Então, quando eles resistiram e blasfemaram, Paulo sacudindo ele as vestes, disse-lhes: O vosso sangue venha sobre a vossa cabeça; eu estou limpo e desde agora vou para os gentios. (v. 6).

Jesus ordenou aos seus discípulos que sacudissem o pó dos pés de todo aquele que não ouvisse a sua pregação do evangelho (Mateus 10:14-16). Paulo está fazendo algo semelhante aqui. Ao sacudir as suas vestes, ele está ilustrando como está limpo, ele está limpo porque lhes transmitiu a mensagem de Jesus Cristo. Esse era o seu chamado, Paulo é um mensageiro e se a mensagem for rejeitada, Paulo ainda obedeceu ao chamado de Deus. Ao sacudir as suas vestes, Paulo está dizendo: "Vocês tomaram a sua decisão, eu sigo em frente".

Cabe a cada pessoa aceitar o evangelho, confiando em sua verdade, ou resistir a ele, cada um escolhe por si. Paulo diz a esses homens que o sangue deles é sobre suas próprias cabeças, o que significa que eles são responsáveis por como se sairão no Dia do Juízo. Eles ouviram a mensagem de Deus, ouviram falar do Filho de Deus em quem podiam crer e por meio de quem receberiam a vida eterna, e disseram: "Não, obrigado". Estavam plenamente informados e decidiram "Não", portanto Paulo não é responsável pela rejeição deles.

Paulo não pode fazê-los crer, nem pode crer em nome deles. O sangue deles recai sobre suas próprias cabeças; são responsáveis por não crer na mensagem que os teria salvado do pecado e da morte.

Paulo diz a esses judeus resistentes que ele está limpo, que sua consciência está limpa, que fez o bem a eles e que eles o rejeitaram. Como os judeus rejeitaram o evangelho, Paulo declara: "eu estou limpo e desde agora vou para os gentios.". Pelo resto de sua estadia em Corinto, Paulo não pregará mais na sinagoga aos judeus, mas pregará exclusivamente aos gentios.

Um evento semelhante ocorreu anos antes em Antioquia da Pisídia, onde os judeus "começaram a contradizer as coisas ditas por Paulo, e o blasfemavam" ou o caluniavam (Atos 13:45). Ele e Barnabé responderam que se voltariam para os gentios, em cumprimento a Isaías 49:6, onde é predito que o Messias de Deus traria salvação não apenas aos judeus, mas também às nações (gentios).

No entanto, enquanto a maioria dos judeus em Corinto rejeitava o evangelho, alguns judeus e prosélitos depositavam sua fé em Jesus. Depois que Paulo repudia a sinagoga, ele se muda para a casa ao lado:

Saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Tício Justo, que era temente a Deus, e cuja casa era contígua à sinagoga.(v. 7).

Parece que Paulo não só estava hospedado na casa de um homem chamado Tício Justo, mas também pregava em sua casa, formando uma igreja doméstica. A conexão entre a maneira como Paulo deixou a sinagoga e foi imediatamente para a casa de um homem chamado Tício Justo implica que era ali que a pregação de Paulo continuaria, visto que ele havia terminado de pregar na sinagoga.

Também é provável que Paulo tenha se estabelecido nesta casa pelo restante de sua estadia em Corinto. Ele havia se hospedado na casa de Lídia em Filipos, e os fiéis filipenses se reuniram ali para ouvi-lo se despedir (Atos 16:40). A igreja pode ter continuado a se reunir na casa de Lídia. Parece possível que o mesmo tenha acontecido com a casa de Tício Justo.

Lucas, o autor de Atos, descreve Tício Justo como um adorador de Deus, termo usado em outras partes de Atos para designar os gentios que adoravam o Deus de Israel, Javé, mas que não eram necessariamente prosélitos convertidos ao judaísmo. Tício Justo parece ter hospedado Paulo, bem como a igreja em desenvolvimento em Corinto. O fato de Paulo agora morar ao lado da sinagoga e continuar a pregar sobre Jesus sem dúvida frustrou os judeus que se opunham ao Evangelho.

Mas alguns dos judeus, até mesmo dentre os seus próprios líderes, depositaram sua fé em Jesus:

Crispo, chefe da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados. (v. 8).

O anúncio de Paulo na sinagoga de que iria aos gentios, enquanto sacudia as vestes, parece ter chegado a alguns judeus. O líder da sinagoga, um homem chamado Crispo, acreditava em Jesus. Ele pode ter perdido sua posição como líder da sinagoga por causa disso. Ele não apenas acreditava no Senhor como o Messias, mas toda a sua casa também acreditava - sua família e possivelmente seus empregados.

Havia muitos outros coríntios que também acreditavam na pregação de Paulo. Lucas nos conta que, quando ouviram o evangelho, creram e foram batizados. A gramática aqui indica um aumento contínuo de coríntios ouvindo a mensagem, crendo e sendo batizados. A igreja de Corinto está crescendo.

Até então, em suas viagens missionárias, Paulo não conseguia ficar muito tempo em cada cidade que visitava. Normalmente, ele só tinha tempo para pregar e fundar uma igreja de novos crentes antes que uma multidão de descrentes o expulsasse da cidade. Mas Jesus queria que Paulo permanecesse em Corinto por um período significativo. Ele falou com Paulo em um sonho:

De noite, disse o Senhor a Paulo, em uma visão: Não temas, mas fala e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém te porá a mão para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.(v. 9-10).

O fato de o Senhor primeiro dizer a Paul : "Não temas" indica que Paulo até então sentia medo. Paulo geralmente não consegue ficar muito tempo em uma cidade enquanto prega o evangelho. Paulo pode estar se perguntando quando seu tempo em Corinto terminará. Ele pode estar pensando: "É só uma questão de tempo agora. Meus inimigos estão conspirando para se livrar de mim".

O fato de Paulo ter conduzido Crispo, o líder da sinagoga, à fé em Cristo provavelmente criou divisão e conflito na comunidade judaica em Corinto. Paulo sabe que é culpado por muitos por essa convulsão social. Ele pode temer a prisão, como quando foi preso em Filipos (Atos 16:23); pode temer que uma multidão ataque um dos novos cristãos, como aconteceu em Tessalônica (Atos 17:6).

Com base no que Jesus diz no versículo 10 -  ninguém te porá a mão para te fazer mal - Paulo temia a violência física. Ele já havia sido apedrejado quase até a morte uma vez, e embora Deus tenha sustentado a vida de Paulo, ainda assim foi uma experiência traumática (Atos 14:19). Recentemente, em Filipos, Paulo sofreu uma surra com uma vara de madeira (Atos 16:22).

É claro que Paulo se dedica a pregar o evangelho, não importa o custo terreno. Ele frequentemente escreve sobre assumir a perspectiva de Cristo, que todo sofrimento temporário não é nada quando comparado às recompensas que aguardam os filhos obedientes de Deus na vida futura (Romanos 8:18; 2 Coríntios 4:17). Mas Paulo ainda é humano, é natural ter medo, é natural querer evitar a dor física. Jesus diz a Paulo para ignorar esse medo. Ele não precisa mais sentir medo.

Jesus ordena a Paulo que continue a pregar a mensagem das boas novas sobre o Messias, que não se cale. Paulo está seguro em Corinto. Jesus lhe assegura: "porque eu sou contigo". É por isso que Paulo não precisa ter medo. Cristo está colocando Sua proteção sobre Paulo, tanto que nenhum homem o atacará para prejudicá-lo. A proteção de Cristo sobre Paulo será manifestada por meio de outros homens e mulheres: Jesus declara, "pois tenho muito povo nesta cidade". Há muitas pessoas na cidade de Corinto que pertencem a Jesus Cristo, e elas cuidarão de Paulo. Paulo não terá que sair da cidade ainda, pelo menos não por enquanto.

O ministério de Paulo em Corinto tem permissão para durar um ano e meio:

Ali ficou um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus. (v. 11).

Corinto era uma cidade grande e importante na Grécia e no Império Romano. Era a capital da província da Acaia. Era repleta de culto pagão, perversidade sexual e riqueza (1 Coríntios 8:1-6, 5:1-2, 6:18, 2 Coríntios 9:6-8). Havia muitas almas perdidas ali para Paulo continuar ensinando a Palavra de Deus, assim como muitos que haviam crido e aos quais Paulo poderia continuar ensinando, para que amadurecessem na fé (Colossenses 2:6-7, Hebreus 5:12-14).

Paulo pôde viver ali por um ano e seis meses, provavelmente na casa de Tício Justo, que parece ser uma das muitas pessoas nesta cidade por meio das quais Jesus prometeu trabalhar para que Paulo soubesse que "porque eu sou contigo", que nenhum homem atacaria ou faria mal a Paulo.

Assim, Paulo, Timóteo e Silas puderam estabelecer-se temporariamente em Corinto como ministros do evangelho. Acredita-se que, durante esse período, Paulo escreveu as cartas aos tessalonicenses (1 e 2 Tessalonicenses) para encorajá-los, visto que seu tempo com eles foi tão breve. Ele também aproveitou cada carta como uma oportunidade para responder às perguntas dos tessalonicenses e esclarecer mal-entendidos. Durante o ano e seis meses em que Paulo viveu em Corinto, Timóteo pôde viajar a Tessalônica para entregar as cartas de Paulo e levar notícias a ele sobre o desempenho da igreja em Tessalônica (1 Tessalonicenses 3:2).