
Tiago acaba de apresentar uma ilustração em que os crentes demonstram "favoritismo pessoal" e fazem "distinções" com base em "más intenções" (Tiago 2:1, 4). A ilustração se dá quando um homem rico entra na assembleia dos crentes e recebe o primeiro lugar da casa, então, quando um homem pobre entra na assembleia, ele é obrigado a ficar de pé, ou seja, sentado no chão. Tiago condena tal tratamento, dizendo que aqueles que agem dessa maneira "se tornaram juízes com más intenções" (Tiago 1:4).
Tiago prossegue para extinguir esses motivos malignos com a verdade:
Escutai, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os pobres do mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? (v. 5).
A repreensão de Tiago vem de um lugar de amor; ele se importa com seus leitores e quer que eles vivam em sintonia com sua fé em Jesus. Ele convida seu público a ouvir, prestar atenção, isso é importante, e os chama de irmãos amados. Eles são irmãos e irmãs de Tiago em Cristo que também creem em Jesus e são amados por ele mas suas motivações são malignas neste caso; eles não estão pensando direito. Tiago lhes mostra uma maneira melhor de pensar. Não a maneira de pensar do mundo, mas a de Deus:
Não escolheu Deus os pobres do mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? (v. 5).
Tiago faz aos seus leitores uma pergunta retórica sobre quem Deus chamou para segui-Lo: Deus os pobres do mundo para fazê-los ricos na fé? A resposta esperada é "sim". Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé, serão os atos praticados com fé que alcançarão a maior recompensa em Seu reino vindouro (Mateus 8:10-12; João 20:29) ser rico na fé é ser grande no reino de Deus.
Tiago contrasta a pobreza material com a riqueza espiritual: pobres deste mundo com ricos na fé Embora os pobres deste mundo nunca sejam importantes nos reinos dos homens, eles podem ser herdeiros do reino de Jesus Cristo. Deus prometeu essa herança àqueles que O amam.
O apóstolo Paulo faz uma comparação semelhante:
"Vede, irmãos, a vossa vocação; que não muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres são chamados; pelo contrário, as coisas insensatas do mundo escolheu Deus para envergonhar os sábios, e as coisas fracas do mundo escolheu Deus para envergonhar as fortes; e as coisas ignóbeis do mundo e as desprezadas, escolheu Deus, sim, aquelas que não são, para reduzir a nada coisas que são; a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus."
(1 Coríntios 1:26-29)
Nem Paulo nem Tiago estão dizendo que homens financeiramente pobres são, por definição, mais justos do que homens ricos mas há uma forte tentação para aqueles com grande riqueza, força ou poder terreno de pensar que não precisam de Deus.
Jesus, no seu “Sermão da Montanha”, começou por dizer:
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus."
(Mateus 5:3)
Ser pobre em espírito é reconhecer a pobreza espiritual, reconhecer nossa necessidade espiritual, significa rejeitar a ideia de que não precisamos de Deus, ou de que Deus nos favorece porque somos ricos, fortes ou inteligentes, é depender de Deus, esta é a essência da confiança plena em Deus acima de tudo.
Jesus ensina que os pobres de espírito são abençoados/prósperos porque receberão o reino dos céus. O reino dos céus refere-se à nova ordem espiritual e política que Jesus veio trazer. Um dia, ela se manifestará como um reino físico nesta Terra, com Jesus Cristo como o Rei dos Reis, governando o mundo e trazendo perfeita harmonia. Se não reconhecermos nossa necessidade espiritual, não buscaremos os benefícios do reino dos céus.
Os benefícios do céu vêm por meio da dependência espiritual, agora e no futuro. Em Apocalipse, Jesus diz à igreja de Laodiceia: "eu te aconselho que de mim compres ouro refinado no fogo, para te enriqueceres, vestes brancas, para te cobrires e para que a vergonha da tua nudez não seja manifesta e também colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas." (Apocalipse 3:18). A passagem prossegue descrevendo o método para adquirir tal suprimento infinito de ouro: ouvir a voz de Jesus e buscar o mesmo tipo de intimidade com Ele que teríamos com um amigo próximo em um jantar.
Essa intimidade resultará em transformação por meio de uma mente renovada - perceberemos que nossa melhor vida advém de vivermos a vida como um sacrifício a Deus (Romanos 12:1-2). Deus prometeu recompensar grandemente aqueles que vivem suas vidas para Ele. Os crentes têm a oportunidade de ser coerdeiros com Jesus se sofrermos com Ele, o apóstolo Paulo alude a isso em sua carta aos Romanos, dizendo que somos
"E, se filhos, também herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, se realmente padecemos com ele, para que também com ele sejamos glorificados."
(Romanos 8:17)
Jesus pretende recompensar aqueles que aprendem a obediência que Ele aprendeu, compartilhando com eles a incrível recompensa de reinar sobre a Terra em harmonia e a serviço Dele (Apocalipse 3:21).
Os crentes têm esta oportunidade incrível de co-reinar no reino vindouro de Jesus mas, somente se sofrermos da mesma forma que Jesus sofreu, obedecendo a Deus e dependendo d'Ele, suportando a rejeição do mundo. Isso significa necessariamente que não perseguiríamos ambições mundanas, tratando as pessoas com parcialidade, pensando que elas podem fazer algo por nós. Deus deseja recompensar grandemente o Seu povo que O ama e se contenta com a perda e a rejeição mundanas. Ele concederá bênçãos incríveis àqueles que O amam e O seguem até a morte (1 Coríntios 2:9; Apocalipse 1:3).
É a isso que Tiago se refere em sua carta: os herdeiros do reino são aqueles que são ricos na fé e que amam a Deus. Os crentes que vivem suas vidas confiando e amando a Deus viverão como Jesus viveu e sofrerão como Ele sofreu. Isso porque o mundo está em guerra com Deus, como Tiago deixará claro em alguns capítulos (Tiago 4:4).
Tiago também descreveu como o reino de Deus é organizado, de modo que as pessoas menos importantes (pelos padrões do mundo) governarão no reino vindouro se amarem a Deus e O servirem com suas vidas. Ele continua com "Mas...". Mas... os leitores de Tiago não demonstram amor a Deus nem interesse em se tornarem herdeiros do reino se tratarem o pobre com desrespeito. Tais ações revelam que se importam com os reinos dos homens:
Vós, porém, desprezastes o pobre (v. 6).
Os pobres deste mundo, que são chamados à riqueza espiritual e a serem futuros co-governantes no reino de Deus, foram desonrados pelos leitores de Tiago. Tiago está dizendo: "Vocês estão maltratando os escolhidos de Deus. Vocês estão maltratando as pessoas que são importantes para o futuro reino de Cristo". Uma maneira de encarar a perspectiva oferecida por Tiago é que ele está nos dizendo: "Essas pessoas que não recebem nenhum valor nesta terra serão grandes príncipes e princesas no reino que há de vir - vocês fariam bem em tratá-las bem".
Tiago então lança algumas críticas aos ricos, destacando por que não faz sentido neste mundo que seus leitores tentem se insinuar com os ricos:
Não são os ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam perante os tribunais? (v. 6)
Por que, pergunta Tiago, você exalta os ricos, quando eles o oprimem? A questão parece ser: "Este homem rico enriqueceu por ser bom em tirar vantagem dos outros, por que você acha que pode se beneficiar dele?"
Ele cita um exemplo de pessoas ricas levando seus leitores aos tribunais, presumivelmente em alguma tentativa de extorquir dinheiro, e não por razões legais legítimas. A maioria das pessoas na época em que Tiago escreveu não tinha condições financeiras, seus leitores provavelmente não eram muito diferentes do "pobre" em sua ilustração sobre favoritismo.
Podemos tomar isso como uma ilustração, em vez de uma afirmação categórica - há muitos exemplos ao longo do Novo Testamento de homens e mulheres ricos que creem em Jesus e usam seus recursos para servir seus irmãos e irmãs, em vez de explorá-los, José de Arimateia, Barnabé, Febe e Maria Madalena fornecem alguns exemplos, entre muitos outros (Mateus 27:57-60, Atos 4:36-37, Lucas 7:2-5, Romanos 16:1-2, Atos 16:14, Filemom 1, Lucas 8:2-3). O Antigo Testamento também está repleto de homens ricos que andaram com Deus (Abrão - Gênesis 13:2, Isaque - Gênesis 26:12, Jó - Jó 1:3, Salomão - 2 Crônicas 9:20).
Nesta carta, Tiago escreve verdades gerais, não uma acusação abrangente contra pessoas ricas. Seu ponto não é tanto sobre quanto dinheiro alguém tem, mas sim sobre o motivo. Seus ouvintes têm uma perspectiva invertida sobre o que importa, eles não entendem como buscar tesouros duradouros buscando tesouros no céu, eles têm bajulado os ricos de sua comunidade, apesar de terem sido perseguidos por eles nos tribunais.
Todo o dinheiro e bens acumulados nesta Terra serão deixados para trás (Lucas 12:20-21) somente as nossas boas ações, feitas em nome do Senhor, é que poderemos levar conosco para a próxima vida (Mateus 6:3-4; 1 Coríntios 3:11-17).
Da mesma forma, Jesus repreendeu os fariseus ricos e poderosos por explorarem os mais pobres entre os pobres:
"[Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque devorais as casas das viúvas sob pretextos de longas orações; por isso recebereis maior condenação.]"
(Mateus 23:14)
Mas essas pessoas ricas não são apenas abusivas com seus irmãos mais pobres, elas também desrespeitam o nome de Jesus, Tiago faz outra pergunta:
Não são eles os que blasfemam o bom Nome pelo qual sois chamados? (v. 7)
Mais uma vez, parece que Tiago está abordando problemas específicos entre seus leitores. Talvez alguns dos ricos da assembleia de crentes tenham pessoalmente arrastado seus companheiros crentes ao tribunal, e Tiago os estava repreendendo por maltratarem seus irmãos mais pobres. Ao fazer isso, esse homem rico blasfemou (ou desonrou) o belo nome pelo qual todos os crentes são chamados (o belo nome de Jesus, o Filho de Deus).
Tiago está apontando que há corrupção nesta assembleia de crentes, que eles estão honrando homens ricos que se aproveitaram deles e que desrespeitam o próprio nome de Jesus com suas ações. Seu objetivo pode ser duplo: 1) dizer a esses crentes que parem de demonstrar favoritismo e tratem todos em sua assembleia com igual serviço e amor, e 2) humilhar o homem rico litigioso que prejudicou seu irmão em Cristo ao processá-lo.
Certamente, Tiago quer que esse homem rico se arrependa e não manche mais o nome de Jesus explorando outros crentes.
Na seção seguinte, Tiago falará mais amplamente sobre o pecado e como a obediência a Deus é baseada no amor.
Usado com permissão de TheBibleSays.com.
Você pode acessar o artigo original aqui.
The Blue Letter Bible ministry and the BLB Institute hold to the historical, conservative Christian faith, which includes a firm belief in the inerrancy of Scripture. Since the text and audio content provided by BLB represent a range of evangelical traditions, all of the ideas and principles conveyed in the resource materials are not necessarily affirmed, in total, by this ministry.
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